segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

A revista Época desta semana contém uma reportagem especial sobre as 'novas' universidades federais criadas pelo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante seus dois mandatos, foram anunciadas 14 universidades e 125 campi novos; foram criadas também cerca de 88 mil novas vagas nas instituições federais de ensino superior (IFES).

Na matéria, porém, são descortinados os mecanismos que permitiram uma expansão tão elevada da rede pública de ensino superior, em tão pouco tempo. "Em um giro rápido pelas novas universidades, não é difícil decifrar a equação. A expansão foi feita na base do improviso", diz a matéria. Além do mais, das 14 novas universidades "criadas" pelo governo Lula, apenas quatro são realmente novas. As outras dez eram polos de universidades já existentes que ganharam reitoria própria - a exemplo da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA).

"Anunciada pelo governo federal como uma das 14 novas universidades, a Ufopa foi criada a partir da fusão de um polo da Universidade Federal do Pará com a Federal Rural da Amazônia. Sem estrutura para os cursos novos, neste ano 1.200 alunos vão assistir às aulas no espaço de eventos de um hotel de Santarém. No interior do Estado, as aulas serão em escolas municipais".

O modelo acadêmico implementado na UFOPA também é mencionado na reportagem da revista Época, especificamente no que tange às famigeradas licenciaturas integradas, isto é, cursos de graduação “dois em um” [Matemática e Física, Geografia e História, etc.] visando formar professores de educação básica. Para Gilson Costa [foto ao lado], professor da UFOPA, esse tipo de curso vai formar profissionais que não dominam nem uma disciplina nem outra. "O que estão fazendo aqui é um Frankenstein.” Costa diz que o curso “dois em um” ganhou um apelido entre os professores: Matafísica. “Mata a matemática e a física.”

CLIQUE AQUI para ler a matéria na íntegra.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011


Abelardo Bayma, que presidiu o Ibama desde abril de 2010, deixou o órgão nesta quarta, 12, quando a sua exoneração foi publicada no Diário Oficial.

Veículos de imprensa creditaram a sua demissão à negativa de assinar a licença de instalação da hidrelétrica de Belo Monte e a uma suposta reação a pressões do Consórcio Norte Energia e do Ministro das Minas e Energia, Edson Lobão – a despeito de todas as pendências ambientais e constitucionais do projeto, e do não cumprimento das condicionantes pelo Consórcio, Lobão tem anunciado aos quatro ventos que a Ministra do Meio Ambiente, Isabela Teixeira, teria garantido a liberação das obras da usina até fevereiro.

Bayma não tem se destacado por preocupações excessivas quanto a impactos ambientais de grandes obras. Assinou sem nenhum pudor a licença da hidrelétrica de Teles Pires, no Mato Grosso – ato tão arbitrário que a juíza Hind Ghassan Kayath, da 9a. Vara da Justiça Federal, suspendeu o licenciamento por meio de liminar, por considerar que “o EIA/RIMA encontra-se completamente maculado de vícios” (a liminar foi derrubada posteriormente pelo desembargador Olindo Menezes, do TRF1, por pressão da AGU).

Quanto à saída do Ibama, é possível que Bayma tenha sido prudente o suficiente para não se arriscar por uma licença que, de tão irregular, poderia coloca-lo numa situação extremamente desagradável perante a Justiça. Decisão sensata, uma vez que o Ministério Público Federal já avisou que responsabilizará não apenas o órgão, mas também seus diretores, por qualquer violação da legislação ambiental no caso de Belo Monte.
Estarrecedor, neste caso, é o fato de que o governo federal tenha optado por uma antropofagia bizarra, sacrificando seus próprios soldados quando uma possível sinalização de bom senso ameaça seus planos megalômanos. A saída de Bayma do Ibama – e antes dele, a de outros dois diretores de licenciamento do órgão, em 2009 – não torna menos ilegal qualquer licença de Belo Monte. Seu sucessor se deparará com as mesmas pendências jurídicas.

E o governo, continuará optando por promover carnificinas entre seus próprios quadros a respeitar as leis e a Constituição nacionais?

Publicado originalmente no site do Movimento Xingu Vivo para Sempre 

no dia 13 de janeiro de 2011.



Por Cândido Cunha*
A recém-criada Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) está longe de aparentar, o que dirá ser, uma Universidade. As demandas da comunidade universitária, formada a partir da junção de dois campi de duas universidades federais anteriormente existentes na cidade de Santarém (Ufpa e Ufra*), soam estranho para um ouvido mais atento: reclama-se da falta de espaços físicos como salas de aula e gabinetes para professores, uma biblioteca recém construída não possui livros, é forte a ausência de professores e há até uma proposta de estrutura acadêmica que prevê precariamente a junção curricular da graduação num único processo e a permanente concorrência e seleção entre estudantes desde a entrada até a conclusão dos cursos. São demandas básicas demais que tendem a ser explicadas comumente pelo pouco tempo de vida da instituição.

Porém, conforme já enunciava Marilena Chauí (1999), “essa universidade não forma e não cria pensamento, despoja a linguagem de sentido, densidade e mistério, destrói a curiosidade e a admiração que levam à descoberta do novo, anula toda pretensão de transformação histórica como ação consciente dos seres humanos em condições materialmente determinadas” (Leia A Universidade Operacional - Marilena Chauí).
Mas, se não há condições ou preocupações mínimas para denominar à Ufopa como aquilo que se chama Universidade por um lado, por outro, os dirigentes (nomeados) da nova instituição de ensino superior operam na lógica da completa integração da instituição às estruturas capitalistas em expansão nesta fronteira amazônica.
Ontem, o blog do Sr. Ailton Faleiro, deputado estadual pelo PT e marido da atual vice-reitora da Ufopa, a Sra. Raimundo Monteiro (nomeada), noticiou e ilustrou bem esta perspectiva.
Na postagem “Ufopa terá cátedra de Ciência e Engenharia Ambiental(em que se repete uma matéria do “Amazônia Jornal”) relata-se a assinatura de um acordo que oficializa a criação na Ufopa da cátedra de Ciência e Engenharia Ambiental com representantes das "instituições" Alcoa e a Fulbright.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Por Miriam Leitão e Alvaro Gribel
Chuvas despencam em volume espantoso sobre áreas do Sudeste, fazendo mais de duas centenas de mortos só na Região Serrana do Rio. Na Austrália, vive-se a maior enxurrada em 120 anos. O Ibama passa por mais uma crise — a terceira — provocada pela exigência de licenciamento da hidrelétrica de Belo Monte. Assuntos separados? Não, partes da mesma insensatez.
Os cientistas estão avisando há tempos que os fenômenos naturais, que sempre estiveram conosco, como tempestades e secas, vão acontecer com mais frequência e com mais intensidade. No ano passado, o caudaloso, abundante e aparentemente infinito Rio Negro, na Amazônia, enfrentou uma seca que o transfigurou. As imagens que chegavam de seu leito seco em algumas áreas eram inacreditáveis para quem já o viu na cheia. Como outros rios amazônicos, ele tem oscilações fortes de volume de água, mas o extremo a que chegou na seca do ano passado foi impressionante. Anos atrás, uma seca na Amazônia exibiu o solo da região mais úmida do Brasil rachada como se fosse o Nordeste. É nessa região que o governo pretende construir a maioria das 61 novas usinas hidrelétricas, que, segundo matéria publicada no GLOBO, vão provocar o desmatamento de 5.300 km de florestas só nas áreas dos reservatórios e das linhas de transmissão. Uma dessas usinas é a mais emblemática e mais polêmica: a hidrelétrica de Belo Monte. Ontem, o presidente do Ibama, Abelardo Bayma, pediu demissão alegando motivos pessoais, mas a informação do Blog Político da “Época” é que ele saiu por discordar da licença de Belo Monte. Já houve outros episódios de desabamento no Ibama por causa da mesma hidrelétrica.

domingo, 2 de janeiro de 2011


Por Florêncio Vaz *

Em 2009, Celivaldo Carneiro e Manuel Dutra lançaram o caderno especial na Gazeta de Santarém sobre a Cabanagem, dando destaque ao acampamento de Cuipiranga e aos seus atuais moradores. Um ano antes, o antropólogo Leandro Mahalen de Lima, apresentou sua dissertação de mestrado (USP), “Rios Vermelhos”, sobre os cabanos, citando novamente os rebeldes de Cuipiranga.
Em 2010, o antropólogo escocês Mark Harris lançou seu livro “Rebellion on the Amazon” [Rebelião na Amazônia] baseado em documentos históricos sobre as Forças dos Brasileiros Reunidos, de Cuipiranga. No último dia 20 de dezembro, na UFPA em Belém, a professora Ana Renata de Lima Pantoja defendeu a tese de doutorado em Ciências Sociais/Antropologia “Terra de Revolta”, que cita novamente os cabanos de Cuipiranga como uma experiência significativa de resistência política no Baixo Amazonas.
Através destes exemplos (há outros), não há dúvida de que os cabanos acampados e armados quase em frente a Santarém há 175 anos estão bem vivos e despertando cada vez mais interesse, principalmente fora de Santarém. Qual a razão dessa atração que Cuipiranga exerce sobre os pesquisadores?
Há alguns aspectos que tornam o acampamento dos revoltosos de Cuipiranga muito interessante para os estudiosos. Ele já existia desde pelo menos 1832, antes da tomada de Belém (07.01.1835), o que mostra que a Cabanagem não começou na capital da Província e se espalhou para o interior, inclusive Santarém, como é muito divulgado nos livros de história.
A guerra iniciou em vários pontos do interior da Amazônia (não só em Cuipiranga) e culminou naquele janeiro de 1835 em Belém. Após a tomada da capital, os rebeldes de Cuipiranga intensificaram sua luta, chegando a forçar a Câmara de Santarém a aderir ao movimento cabano. O ponto continuou de pé, mesmo após a queda definitiva de Belém (13.05.1836), e até se tornou o centro do movimento rebelde e a fortaleza mais bem sucedida no interior da Amazônia.
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