sexta-feira, 11 de março de 2016

Por Felipe Bandeira[i]


Na nossa formação social e política, transgredir certos limites da estrutura de poder, só é possível se mediado por um forte processo de mobilização social. Todos os outros caminhos, quando não foram completamente tragados pelo mais abjeto colaboracionismo de classe, foram brutalmente reprimidos e criminalizados.

O emaranhado da classe burguesa no Brasil, por conseguinte, se aproveitou de certa dispersão das massas, da pouca envergadura política das organizações trabalhistas para imprimir a ferro e fogo, traços patrimonialistas e atrasados típicos do capitalismo nos países subdesenvolvidos.

Foi a partir daí que se retirou o eixo da luta de classes do horizonte dos trabalhadores e em seu lugar foi improvisado a ideia rasa do colaboracionismo - da governabilidade -, diluindo numa mesma categoria, “o bem geral”, as inúmeras divergências estruturais. 

É a este processo mediado que se prende os atuais capítulos da operação-Lava Jato. A promiscuidade política, o toma-lá-da-cá e o balcão de negócio não são exclusivos de governos A ou B. Este método, na verdade, consiste na estrutura que se reproduz o modus operadis do Estado de Direito capitalista. A própria adesão a este método, por parte do Partido dos Trabalhadores, demonstra que não se rompeu com velhas práticas políticas, inviabilizando avançar até mesmo em pautas do reformismo mais tênue.

Por outro lado, o que se observa é um processo de contrarreforma organizado pelo governo federal, combinado com um processo de retirada de direitos do Congresso Nacional. Entre esses campos, não existe alternativa alguma. Ao invés disso, se aprofundou uma falsa polarização em torno do PSDB e PT. Ambas as “alternativas” impõe um grande e taxativo ajuste fiscal como saída à crise, penalizando a maioria da população brasileira. 

Em relação à Lula, e seu possível envolvimento nos escândalos da Lava Jato, o mínimo que se pode dizer é que a burguesia nutre uma grande ingratidão por este. Ao participar do “banquete burguês” e aderir as medidas neoliberais, Lula fez um grande favor a burguesia vira-lata brasileira, ao dá continuidade as medidas iniciadas por FHC, como a reforma da previdência, a manutenção de elevados superávits primários, o apoio ao latifúndio e o avanço da fronteira agrícola, bem como o processo autoritário e violento de construção de hidrelétricas na Amazônia, como Belo Monte, e mais recentemente, as do Complexo Tapajós.

Agora, Lula e o PT se veem “escorraçados” da festa. Esta ingratidão, ao qual Lula e o PT com razão se indignam, é a prova que os laços criados com essa tal burguesia eram frágeis. Isso vem de longe. Num país de raízes patrimonialistas, sempre se preferiu puro sangue do que a “nobreza togada”. 

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[i] Coordenador Geral da UES e militante do Movimento de Juventude Juntos!

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