Por Felipe Bandeira*
As contas públicas do Brasil, a partir de 2011, vêm sofrendo grandes perdas. O cenário econômico é de estagnação. As manchetes dos jornais mostram a debilidade da indústria, altas taxas de juros, índices persistentes de inflação, o setor agropecuário reduzindo o crescimento, as commodities perdendo força no mercado internacional. O quadro crítico da economia brasileira, portanto, nos mostra a deterioração das contas públicas - aumento do déficit público -, ao passo que o setor produtivo adentra cada vez em crise.
A indicação do ministro Joaquim Levy, vergando a política econômica para um viés ortodoxo, deixa antever que o diagnóstico para a “reestruturação da economia” será amargo para a grande maioria da população brasileira. Mas isto não é novidade para os governos do PT.
Teses e argumentos defendidos durante os oito anos do governo do FHC, sempre criticados pelo Partido dos Trabalhadores, foram afirmados e seguiram uma linha consistente de continuidade nos governos de Lula e Dilma. O discurso do beco sem saída, levou os governos petistas a “acreditar” que não existe política nem de direita, nem de esquerda, mas tão somente uma única macroeconomia, que traz consigo a política tecnicamente certa e neutra. Foi através desta linha que neoliberais, ruralistas e oligarquias encontraram lugar cativo em baixo do guarda chuvas do governo.
Outro argumento utilizado em demasia pelo reformismo fraco do PT é a manutenção da credibilidade do país. A necessidade de recuperar a credibilidade foi a justificativa para, no início do governo Lula, o país adentra de bico no estágio prolongado da agenda neoliberal. A contra-reforma da previdência, a omissão com a reforma agrária, o sucateamento do ensino superior, a crise urbana etc., fazem parte deste projeto.
Desta forma, os avanços econômicos não se traduziram numa melhora absoluta da maioria da população. O crescimento econômico, a ampliação dos empregos formais e a política de distribuição de renda só foram possíveis mantendo intactas as velhas estruturas. Mas os dados da conjuntura recente mostram que os antagonismos dessa relação se acentuaram de tal forma, que o próximo período deverá vir acompanhado de um sacrifício ainda maior da classe trabalhadora.
Em síntese, o quadro econômico brasileiro pode ser resumido da seguinte forma: 1) os investimentos são bloqueados pelas altas taxas de juros, cuja manutenção é defendida pelos ortodoxos com o objetivo de controlar a inflação; 2) esta, por sua vez, restringe cada vez mais a demanda agregada (sobretudo o consumo das famílias), gerando estoques e provocando um movimento em espiral descendente da economia.
Com o consumo deteriorado, as mercadorias não conseguem se realizar no mercado, gerando estoques. O aumento do endividamento das famílias e o aumento do custo de vida provocado pela inflação comprometem ainda mais o fluxo de capital. Em relação à demanda por bens, seus principais fundamentos de sustentação, o tripé emprego, renda e crédito, continuam a apresentar perdas.
O mercado de trabalho está cada vez menos aquecido, reduzindo a criação de novas vagas. Em alguns setores da indústria, esta situação é ainda mais dramática, uma vez que a redução de postos de trabalho já ocorre há vários meses. Associado a este quadro, o reajuste modesto do salário mínimo nos últimos anos, vinculado ao aumento da inflação, tem contribuído para atenuar os ganhos reais da renda, que vêm desacelerando deste o final de 2013.
Um indicador importante para exemplificar a situação de estagnação é a Fabricação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Este indicador mede o quanto as empresas aumentaram seus bens de capital. Em 2014, a FBCF foi a grande vilã do lado demanda, pois, os capitalistas não conseguiram reinvestir parte do seus lucros para ampliar a produção, somado ao alto grau de ociosidade do capital existente. Este movimento é o início clássico das crises.
Como resposta a essa situação, o governo Dilma anunciou nas primeiras semanas de 2015 um aumento de 0,5% na taxa básica de juros (Selic), aumentando esta para 12,25% ao ano. Esta medida, além de dificultar os investimentos no setor produtivo, agrava ainda mais as condições de vida da classe trabalhadora.
Do ponto de vista político, desde as jornadas de junho, ficou claro que o PT não exerce mais a influência que tinha sobre os movimentos sociais. A capitulação de lideranças, provocada pelo efeito arrasto da degeneração petista, foi um elemento que dificultava a saída à esquerda. As manifestações em massa, apesar de fluída e de não possuir uma direção consolidada, inauguraram no período recente, o ciclo de uma nova correlação de forças.
A vitória apertada no segundo turno de Dilma revela que a hegemonia eleitoral do PT está cada vez mais enfraquecida. Os ajustes econômicos para o próximo período deverão intensificar o sentimento anti-petismo. Desta forma, cabe à esquerda vergar e consolidar uma direção política aos conflitos em latência.
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* Coordenador Geral da UES, estudante de Ciências Econômicas - UFOPA e militante do movimento de juventude Juntos!
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