*Por Rayanna Dolores
No último final de semana (9, 10 e 11), a coordenação geral
da Ues na pessoa de Felipe Bandeira e as diretorias de Movimentos Sociais (Bruna
Vaz) e Universidades Públicas (Rayanna Dolores) estiveram presentes no V
Encontro da Cabanagem que ocorre anualmente na Comunidade de Cuipiranga, a três horas de barco da cidade de Santarém.
Esse ano, em especial, a guerra completou 180 anos desde sua eclosão que foi em
07/01/1835, uma data de suma importância para que haja estímulo para se
combater as muitas falácias a cerca do que realmente foi a cabanagem, seus objetivos,
seu contexto, localização e conquistas, sem nunca deixar de mensurar que a
independência da província do Grão Pará é o carro chefe nessa etapa da história.
Em 2014, no encontro, pegou a bandeira vermelha o estudante
da Ulbra Elias Junior que organizou a atividade de 2015 com muita dedicação e
no mesmo ritual do mastro, passou a responsabilidade para a estudante Heloise
Rocha da Ufopa e comunitários da família Branches, que ficaram incumbidos de planejar
e executar o VI Encontro de Cabanagem em Cuipiranga. Nós da gestão “Nossa
coragem é o medo deles” nos comprometemos a ajudar na organização como intuito
de difundir a veracidade da luta travada no Pará com foco no Oeste do Pará.
Como todos os anos, este não ficou para trás no quesito diversidade de
conhecimentos, culturas e áreas de atuação; advogados, estudantes
universitários, estudantes secundaristas, militantes dos movimentos sociais,
sindicalistas, cabanos da comunidade, pesquisadores, além da presença da
grande Professora Ângela Maria Garcia, antropóloga e docente da Universidade
Federal do Oeste do Pará, que está deixando Santarém e escolheu a comunidade e
o encontro para de despedir com maestria e da inspiradora Professora Ana
Renata Pantoja, historiadora da Universidade Federal do Pará (UFPA), que tem seu trabalho de
pesquisa de doutorado sobre a Cabanagem em Cuipiranga. Em sua tese, considera
que Cuipiranga é dividida entre várias
partes; onde a guerra ocorria, onde as estratégias eram pensadas, onde havia
descanso e refúgio. Inclusive a beira da praia onde há cinco anos ocorre o
encontro era local de pensar na estratégia e na tática, e hoje ainda residem
algumas famílias como os descendentes da família Branches, que vivem naquelas
terras desde o auge da guerra.
A Cabanagem representa a forte resistência dos
paraenses cabanos em busca de independência e revivermos memorialmente esse
fato é reavivar a necessidade diária de se contrapor a uma história desenhada e
não pela vivida de fato e sofrida por esses cabanos que eram nossos parentes,
nossos ancestrais que foram peça única para se definir uma nova roupagem das relações
sociais. Embora por causas diferentes, os cabanos (índios e mestiços, na
maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) se uniram
contra o governo regencial nesta revolta. O objetivo principal era a conquista
da independência da província do Grão-Pará. Os cabanos pretendiam
obter melhores condições de vida (trabalho, moradia, comida). Já os fazendeiros
e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participação
nas decisões administrativas e políticas da província.
2015 começou então com a chama da luta e
da resistência reacendida por nossos cabanos que guerrearam por nós, sabiam que
não seria fácil e que o êxito dos seus sacrifícios não seriam para o seu usufruto,
mas sim para seus filhos, netos, bisnetos, tataranetos, para nós! Temos conosco
a vontade fortificada de lutar sempre por igualdade de direitos e independência.
Que em 2016 o Encontro da Cabanagem só se fortaleça e que continuemos
batalhando para que nossa verdadeira história não se perca nos livros muitas
das vezes errôneos de uma escola, ao contrário que ela só se fortaleça através
da força do nosso povo cabano que ainda vive, luta e resiste!
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* Diretora de Universidades Públicas da UES
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