segunda-feira, 27 de junho de 2011

Há cerca de uma semana, nós, cidadãos de bem deste município, integrantes de mais de mil famílias sem moradia, voltamos a ocupar a área do lado direito (de quem vai ao aeroporto) da Fernando Guilhon. A área está em disputa na justiça num processo que tem de um lado a prefeitura e a família Corrêa (esta última sem conseguir provar que detém a propriedade da terra) e, de outro, homens, mulheres, crianças e idosos que sonham com o direito de ter onde morar.
Voltamos à área, onde vivemos precariamente em um grande alojamento coberto de lona, durante as festas comemorativas do aniversário de Santarém. Sabíamos que, nesse momento, não seríamos alvo de repressão policial, afinal, não seria interessante tornar público que, mesmo com 350 anos de existência e com grandes extensões de terras, nenhum governo até hoje foi competente o suficiente para resolver um problema básico da nossa gente que é a questão da moradia.
Fazemos parte de um movimento por moradia que nasceu da nossa própria necessidade, por isso, reunimos aqui famílias que sofrem com o fenômeno de terras caídas em comunidades de várzea; famílias que não têm mais como continuar reféns de altos alugueis; famílias que dividem o mesmo teto com pais, mães, sogros e sogras, sem dispor de privacidade; idosos que mesmo estando no final da vida não alcançaram a graça de usufruir da casa própria. É claro que todos nós gostaríamos de poder comprar nossas casas, sem precisar correr da polícia como criminosos, porém, dentro do modelo político-econômico-social vigente isso é privilégio de poucos.
Tem quem diga que as famílias que estão aqui hoje são aproveitadoras e que apenas lutam para conseguir um lote para posterior revenda. Não negamos que alguns talvez estejam de fato em nosso meio com esse intuito. Esta, porém, não é a regra. Estamos trabalhando diuturnamente para evitar esse tipo de prática. Não dispomos, contudo, da infraestrutura necessária para coibir essas ações que para nós são danosas, visto que maculam nosso movimento, que é sério e digno.
A prefeitura alega que não podemos ficar na área por ser um espaço de proteção ambiental, mas sabemos que a verdade é outra. Um pouco mais acima da área ora ocupada já está sendo anunciada na grande mídia a construção de um mega shopping center (este, evidentemente, não trará dano ambiental, ou, trazendo, dá-se um jeitinho), que contempla até salão de convenções. Imaginem a valorização que uma obra desse porte trará à área. Imaginem o alvoroço entre os especuladores do ramo imobiliário local. Imaginem ainda os interesses despertados entre os donos da cidade.
Devido a uma grande manifestação feita durante a passagem do Governador Simão Jatene por Santarém, fomos recebidos, segunda-feira, 20/06, pelo chefe da Casa Civil, Zenaldo Coutinho e pelo Dep. Estadual Alexandre Von. Na conversa, deixamos claro que estávamos ocupando a área, estando dispostos a tudo pela nossa permanência. Recebemos de ambos o compromisso de que o Estado, que sempre esteve alheio à situação, entraria no caso.
Naquele momento, o chefe da casa civil assumiu o compromisso de que se as terras forem mesmo do Estado (Iterpa), como nosso movimento tem afirmado, estas serão destinadas à moradia, através de uma política habitacional a ser desenvolvida pela COHAB/Estado. Zenaldo Coutinho levou parte dos cadastros socioeconômicos das famílias que estão na área, se comprometendo a achar uma saída para a questão. Também na reunião, solicitamos do governo que pudéssemos permanecer no local, sem que houvesse qualquer tipo de repressão policial, até um posicionamento do Estado.
Para nossa surpresa, no último sábado, recebemos a visita de militares que maltrataram ocupantes, afirmando que na segunda-feira, 27/06, as famílias serão mais uma vez despejadas. O desejo de ter onde morar, entretanto, nos obriga a ficar e a resistir. Como já afirmamos, nosso movimento nasce da nossa necessidade. Não é a ameaça de prisão que vai nos calar. Tombaremos se for preciso. No Brasil, historicamente, é preciso que haja morte para que as autoridades desenvolvam políticas de inclusão social. Infelizmente, se a história tiver que se repetir, assim será.
É por tudo isso que lançamos esta carta em forma de apelo às autoridades constituídas (imprensa, prefeita, juízes, igreja, promotores, OAB, vereadores) e aos movimentos sociais e sindicais para que venham até nós e vejam que temos rostos. Queremos receber a visita de todos que pensam conhecer o problema de quem não tem onde morar, mas que ao final do dia, comodamente, voltam ao conforto de suas famílias, de suas casas e de seus cobertores quentes para desfrutar de um sono tranqüilo. Temos pouco grau de instrução, mas não somos criminosos. Somos somente pais e mães de família como tantos por aí que lutam pelo direito à sobrevivência.
Santarém, 26 de junho de 2011.
 
MOVIMENTO DE LUTA POR MORADIA/OCUPAÇÃO - FERNANDO GUILHON
Áreas: Vista Alegre do Juá e Salvação – JUNTOS NA LUTA POR MORADIA DIGNA
CONTATOS: 9195.0902/9188.9888/9114.6266/9117.3805

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