Assembléia reúne mais de 2 mil estudantes na Faculdade de Direito da USP. |
O Brasil inteiro tem assistido aos últimos acontecimentos políticos na USP. Desde o dia 27 de outubro, o movimento estudantil da Universidade de São Paulo vem se mobilizando para combater a política de segurança implementada pelo reitor João Grandino Rodas, que consiste na militarização da USP e na repressão e intimidação aos membros da comunidade acadêmica.
Na entrevista abaixo, Thiago Aguiar (estudante de Ciências Sociais, militante do Juntos! e diretor do DCE-Livre da USP) fala sobre o cenário atual da Universidade, que envolve a realização de manifestações e assembléias com milhares de estudantes, e analisa as perspectivas e desafios do movimento estudantil na maior universidade brasileira.
1-Thiago, a assembleia do dia 8 de novembro foi a maior dos últimos tempos na USP. Explique o porquê desta presença massiva de estudantes.
A assembleia do dia 8 foi um marco na memória recente do movimento estudantil da USP. Entre todas e todos ali presentes, percorria um grande sentimento de indignação e a vontade de oferecer uma resposta coletiva à agressão que a USP sofreu. O reitor Rodas, com o apoio de Alckmin, decretou um verdadeiro estado de sítio no campus, impondo a presença de 400 homens da tropa de choque, cavalaria, grupos de ação especial e helicópteros. Tudo isso é incompatível com que acreditamos deva ser o ambiente universitário.
Não podemos aceitar prisões e a militarização da universidade para calar a voz daqueles que divergem da política educacional dos governos tucanos em São Paulo e que não aceitam os ditames de Rodas. A greve geral, então, foi a resposta que encontramos para este triste momento. Deixamos de lado quaisquer diferenças entre nós no último período para rechaçar conjuntamente estes trágicos acontecimentos.
2- O governador Alckmin, em rede nacional, disse que alguns estudantes precisavam de uma “aula de democracia”. Como o ME enxerga a declaração do governador tucano?
As declarações de Alckmin são, na realidade, mais uma tentativa de desviar a atenção da sociedade para o que vem acontecendo na maior universidade brasileira. Em vez de discutirmos a fundo para onde deve ir o dinheiro público que a mantém e o descaso com a segurança de estudantes e trabalhadores da USP, a tentativa do governo e da reitoria é a de “lavar as mãos” e eximir-se de suas responsabilidades, criando polarizações tão mentirosas quanto ridículas como “PM versus maconha”.
No fundo, as declarações servem para afagar uma corrente de opinião na sociedade que rechaça a organização coletiva e não admite a existência do movimento estudantil. O governador poderia, por exemplo, dar aulas de democracia a sua base de apoio na ALESP, exigindo que ela permita o prosseguimento das investigações sobre o escândalo da venda de emendas parlamentares. Poderia, também, pressionar pela votação do projeto de lei do deputado Carlos Giannazi (PSOL) que estabelece a eleição direta para reitor das universidades estaduais paulistas.
Na verdade, ontem, 10/11, o movimento estudantil deu uma “aula de democracia” com um belo ato com 5 mil pessoas no centro de São Paulo e uma grande assembleia que tomou o histórico “salão nobre” da Faculdade de Direito, deliberando a continuidade da greve estudantil.
3- Quais são as principais exigências do ME da USP neste momento?
O movimento estudantil organizou-se para dar uma resposta à truculência com que a reitoria lida com a comunidade universitária. Não aceitamos o convênio assinado num arroubo midiático, sem nenhuma discussão com a comunidade universitária entre a USP e a Secretaria de Segurança Pública para manter a PM nos campi da universidade. Exigimos a garantia da liberdade dos estudantes presos na ocupação da reitoria e o fim dos processos administrativos que servem para instalar um clima de terror no movimento social organizado da universidade.
Achamos fundamental discutir democraticamente um plano real para garantir segurança nos campi da universidade: para isso, é preciso ter vontade política e disposição ao diálogo. Exigimos o fim das terceirizações e a ampliação do efetivo da Guarda Universtária, com treinamento em direitos humanos e a criação de um efetivo feminino que lide com casos de assédio sexual e violência contra a mulher. Também exigimos que a reitoria cumpra sua promessa de fazer uma reforma no péssimo sistema de iluminação no campus. Em vez de gastar milhões de reais no aluguel de imóveis em áreas nobres de São Paulo, o reitor poderia tomar medidas como essas e permitir o aumento da circulação de pessoas nos campi para que sejam verdadeiros espaços públicos, além da ampliação no número de ônibus circulares e a criação de um circular gratuito do campus ao metrô Butantã.
Este é o real debate que deveria estar sendo feito na USP. Infelizmente, a reitoria decidiu eximir-se de suas responsabilidades igualando segurança à presença de militares em espaços acadêmicos.
4- Existe conexão entre a atual situação da USP e o contexto mundial de retomada das lutas dos indignados?
Ao longo desse ano, temos visto também entre a juventude brasileira uma grande referência nas lutas internacionais. As velhas amarras e referências já não servem de estímulo à mobilização. Novos símbolos e práticas estão sendo construídas a muitas mãos. Tenho a impressão de que o rechaço à truculência do Estado, as grandes assembléias organizadas com os estudantes, a tomada das ruas e a solidariedade com todos os outros que também se colocam em movimento demonstram respirarmos novos ares.
# Entrevista publicada originalmente no site do Juntos!
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