terça-feira, 1 de novembro de 2011

Por Ib Sales Tapajós*
Nos últimos meses, o tema corrupção vem tendo grande destaque nos noticiários nacionais. Em menos de um ano de governo Dilma, cinco ministros foram afastados dos seus cargos em virtude de denúncias de corrupção. A imprensa mostrou vários partidos da base governista atolados até o pescoço em esquemas que desviavam milhões de reais dos cofres públicos. Partidos reconhecidamente fisiológicos, como o PMDB e o PR, tiveram que substituir os chefes dos ministérios para “apagar o fogo”, ou seja, perderam os anéis para não perder o dedo.
O último escândalo, porém, envolve o Ministério dos Esportes, pasta controlada pelo Partido Comunista do Brasil (PC do B), organização que reivindica, na teoria, um programa de esquerda, “comunista”. O ministro Orlando Silva está sendo acusado de comandar um esquema milionário de desvio de dinheiro público através de convênios do ministério com ONG´s de fachada.
Os convênios eram realizados a partir do programa “Segundo Tempo”, criado pelo governo federal para incentivar crianças carentes a praticar atividades esportivas. De acordo com as denúncias veiculadas pela imprensa, o esquema funcionava assim: o ministério repassava verbas do programa a ONG’s fantasmas, que embolsavam a grana, repassando 20% ao partido.
Os detalhes do esquema foram revelados pelo policial militar João Dias Ferreira, ex-militante do PC do B, que foi preso no ano passado por envolvimento nas falcatruas do programa Segundo Tempo. João Dias afirma que o esquema teve início na gestão do ex-ministro Agnelo Queiroz, hoje governador do DF pelo PT, e continuou sendo executado na gestão de Orlando Silva, com a participação ativa do ministro, que teria inclusive recebido remessas de dinheiro vivo no interior da garagem do ministério.
Orlando Silva se defendeu das denúncias, atacando o policial João Dias, a quem qualificou como “bandido”. A militância do PC do B, por sua vez, defendeu com unhas e dentes o ministro, que estaria sendo alvo de perseguição política da “imprensa golpista”. O fato é que Orlando não conseguiu se segurar no cargo e acabou renunciando.
O caso Orlando Silva é mais um capítulo da degeneração do PC do B
O esquema milionário no Ministério dos Esportes apenas vem a confirmar o inegável processo de degeneração moral e política do Partido Comunista do Brasil. De uma organização que combateu a ditadura militar na Guerrilha do Araguaia, o PC do B passou a um partido oportunista, com práticas abomináveis e aliado ao que há de pior na política brasileira.
A UJS (juventude do PC do B), sendo hoje o maior setor do movimento estudantil brasileiro, transformou a UNE numa entidade chapa branca, inegavelmente atrelada aos interesses do Palácio do Planalto. Para manter seu controle sobre a entidade durante as últimas décadas, o PC do B não se furtou de praticar todos os mecanismos (legais e ilegais) possíveis, como a fraude das atas de eleição de delegados, falsificação de documentos, criação de entidades de fachada, etc. A propósito, Orlando Silva foi presidente da UNE, que funciona como uma escola política do PC do B. Aqueles que ontem fraudavam eleições para manter o aparato da entidade, hoje desviam milhões de reais que deveriam ser utilizados para atender crianças e jovens das periferias do Brasil.
Assim sendo, como afirma o jornalista Rogério Castro, é preciso ser muito ingênuo para acreditar que quem frauda urnas em eleições sindicais, ou faz do voto na época da eleição moeda de troca, vai ter o pudor de no ministério, controlando quantias milionárias, governar sem se servir de expedientes ilícitos. Por isso mesmo, soam no mínimo como hipócritas as afirmações “indignadas” dos militantes do PC do B defendendo a “ética” do seu partido.
Além do envolvimento direto com esquemas de corrupção, há que se lembrar o apoio indireto dado pelo PC do B (setor majoritário da UNE) aos últimos escândalos dos governos de Lula e Dilma. Em 2005, no auge da crise do mensalão, a principal entidade estudantil brasileira foi às ruas protestar contra a “tentativa de desestabilização do governo Lula”, o que na prática significou complacência com um dos maiores esquemas de corrupção da nossa história republicana – semelhantes inclusive as falcatruas praticadas por Fernando Collor no começo da década de 90, que levaram a UNE a mobilizar os “caras pintadas” até o impeachment do presidente corrupto.
Em 2009, a UJS/PC do B se negou a apoiar o “Fora Sarney”. A direção da UNE se omitiu de combater um dos maiores bandidos da política brasileira, motivo porque a UJS foi apelidada de União da Juventude do Sarney. Agora, em 2011, a UNE não lançou sequer uma nota de repúdio diante dos sucessivos escândalos de corrupção descobertos no governo Dilma. Pelo contrário, dirigentes da UNE ligados ao PC do B manifestam apoio incondicional ao ministro dos esportes.
Entretanto, a degeneração do PC do B não se limita ao campo ético; perpassa também, e com muita intensidade, pelo campo político-ideológico. A atuação do Deputado Aldo Rebelo (PC do B/SP) como relator do novo Código Florestal é prova cabal disso. Aldo Rebelo se juntou ao setor mais reacionário da política brasileira – a direita ruralista – em defesa de modificações na legislação ambiental brasileira, visando possibilitar o desmatamento de áreas antes protegidas, bem como anistiar fazendeiros que durante anos ou décadas desmataram suas terras de forma ilegal.
A propósito, Aldo Rebelo foi nomeado pela Presidente Dilma como o novo ministro dos esportes. Em entrevista à imprensa, o novo ministro, que também foi presidente da UNE, afirmou que, apesar de ser a favor da meia-entrada estudantil, vai defender a posição do governo na discussão da Lei Geral da Copa do Mundo. Ou seja, na prática vai contribuir para que, durante os jogos da Copa, os estudantes brasileiros tenham negado seu direito historicamente adquirido de pagar metade do preço dos ingressos em eventos esportivos. Assim como vários outros companheiros de partido, Aldo Rebelo joga na lata do lixo sua história de líder estudantil.
Uma nova forma de fazer política é possível e necessária!
O caráter degenerado e corrompido do PC do B, que ficou evidente para o grande público com o caso Orlando Silva, não deve ser motivo para o descrédito na possibilidade de mudança dos rumos da política brasileira. A idéia de que tanto a esquerda como a direita roubam – e por isso são iguais – é uma idéia falsa. É preciso separar o joio do trigo e saber quem é quem na política nacional. Como afirma a Nota da Executiva Estadual do PSOL/RS, "Qualquer partido que se diga comunista ou socialista e tenha as posições do PC do B tem o comunismo apenas no nome".

A observância dos princípios éticos é indispensável para uma organização que reivindica o programa socialista. Não se pode pensar em construir uma nova sociedade se apegando aos piores aspectos da velha sociedade capitalista, injusta e corrompida. Não é possível construir um país mais justo desviando verbas que deveriam ser utilizadas para atender as camadas mais pobres e marginalizadas da população brasileira. Conforme nos ensinam os clássicos do pensamento marxista, a prática é indissociável da teoria. Por isso, o PC do B não faz jus à tradição socialista, uma vez que sua atuação cotidiana vai de encontro aos princípios dessa corrente de pensamento.
Por outro lado, nem tudo está perdido no Brasil. Existe hoje um importante setor da esquerda socialista que não se vendeu e não se rendeu aos donos do poder. Inúmeros militantes honestos, de norte a sul do país, dedicam suas vidas para construir um futuro diferente.
A luta contra a corrupção se mostra cada vez mais importante e atual, pois permite desmascarar e enfraquecer os partidos da ordem, abrindo espaço para a construção de alternativas políticas realmente comprometidas com a transformação social. Mas não basta denunciar os escândalos, é preciso apontar caminhos para combater a corrupção em sua raiz. Mecanismos como o financiamento público de campanha servem para minar a relação espúria entre os partidos do regime burguês e as grandes empresas que financiam as suas campanhas eleitorais.
Além disso, é preciso construir uma nova cultura política, que permita à classe trabalhadora e à juventude avançar na construção de uma nova sociedade. No âmbito da juventude, esse processo está em curso e ganhou impulso especial com a criação do Juntos!, movimento que pretende organizar e impulsionar as lutas da juventude em todo o Brasil. O Juntos! tem a cara da juventude indignada, sem rabo preso, que não foge da luta.
Juntos, lutamos contra a usina de Belo Monte em Altamira/PA e contra o Código Florestal motosserra do Sr. Aldo Rebelo. Juntos, combatemos a máfia na CBF, comandada por Ricardo Teixeira, amigo de Orlando Silva e do PCdoB. Juntos, defendemos a meia-entrada dos estudantes em todo e qualquer evento cultural ou esportivo. Juntos, queremos construir um futuro diferente no Brasil e no mundo. Vem com a gente!
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* Ib Sales Tapajós, coordenador geral da UES, é militante do Juntos! e do PSOL.
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# Este artigo foi publicado originalmente no site do Juntos!

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