sábado, 28 de setembro de 2013

Por Carlos Bandeira Jr.*


Há dez anos que diariamente, por volta de 18hrs, Osvaldo, conhecido como Baruca, senhor de 64 anos, monta sua banca de churrasquinhos em cima do meio fio da avenida Rui Barbosa. Por lá permanece até a meia noite quando termina sua jornada. 



Sobre a mesa expõe os alimentos. Há uma bandeja com churrascos de calabresa e outra para os de carne e mistos. Tem os molhos de pimenta e as vasilhas com farinha, o complemento do churrasco. Seu Baruca vende os espetos de carne no preço de dois reais e os de calabresa a dois cinqüenta ou três por cinco.


A primeira vista o ponto do seu Baruca parece meio isolado, fica debaixo de uma das muitas mangueiras daquela avenida. O local é bastante escuro e pouco movimentado naquela hora. Ele atua de modo diferente dos outros vendedores que dizem sempre montar suas barracas onde há movimento.






Da sua rotina de ambulante, entre assar um espeto e outro, seu Baruca conversa, sorrir, passa troco, manteiga, virava a carne... Identifiquei-me dizendo ser aluno da Ufopa e estar fazendo pesquisa com trabalhadores ambulantes e se ele não poderia conversar um instante comigo. Respondeu estar bastante ocupado, mas para eu ir perguntado que ele iria responder.


O questionei se ele era de Santarém ou de outro lugar. Falou ser daqui mesmo, mas que quando jovem foi para Manaus e lá viveu trinta anos. Já fazem dez anos que retornou a Santarém. Em Manaus constituiu família, teve várias esposas e filhos. Disse contando tudo tem 21 filhos, fora uma que morreu. Lá trabalhava como camelô, sempre por conta. 





Com relação a escolaridade Baruca disse que estudou no Dom Amando, completou o ginásio, mas como o pai era carroceiro não teve mais condição de pagar seus estudos e ele parou. Ajudava o pai no trabalho. Foi nessa época que viajou para Manaus.


Ao retornar a Santarém não conseguiu emprego porque já era velho, então como sempre trabalhou como autônomo decidiu vender alguma coisa na rua. Foi quando montou sua banca, desde daí trabalha nesse ponto. Disse saber se virar para ganhar dinheiro. "Dou um jeito. Jogo bilhar, baralho, dominó, eu me esforço”.



Durante o tempo de trabalho no local apenas uma vez a prefeitura tentou retirá-lo de lá. Mas tudo já foi resolvido, conversou com um vereador e liberou para que permanecesse trabalhando no espaço. “Mas olha, eu deixo tudo limpinho, organizo tudo pra não ter problema.”



Hoje, Baruca mora só, teve esposa por aqui mas já separou. Mencionou ter seis filhos em Santarém que dependem da sua renda. Com relação a pensão disse que nunca pagou porque ele separou das mulheres e não dos filhos. Falou que gosta de tomar sua “geleda” e ir atrás das mulheres ainda.



Nesse tempo que permaneci na sua venda percebi como Baruca é conhecido. Vieram várias pessoas para comer o churrasquinho. Na rua passaram uns dois senhores que gritando “ei Baruca”, dando a entender que já o conheciam. Baruca disse que seus clientes são principalmente estudantes, mototaxistas, taxistas, mas tem muitas outras pessoas que vão comprar com ele.



Com relação ao apelido, citou ser herança de seu pai do tempo que jogou no time do São Francisco. Quando entrou para também jogar no clube, nas décadas de 60 e 70, recebeu o mesmo apelido do pai. Desde então todos o conhecem assim: Baruca.


* Fotógrafo e Acadêmico de Antropologia UFOPA.

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