Por Felipe Bandeira*
Realizado na cidade de Altamira nos dias 25, 16 e 27 de outubro, o Seminário Mundial de Luta contra Belo Monte representou um fórum estratégico na resistência contra as usinas hidrelétricas na Amazônia. Chamado pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre (que representa uma coalisão de várias organizações, sindicatos, associações, cooperativas e outros), o Seminário debateu principalmente os apontamentos práticos no enfrentamento contra o Governo Dilma.
O evento contou com uma marcante presença de povos indígenas de diversas etnias, entre elas a Kayapó, além de pescadores da bacia do Xingu e também de entidades dos movimentos sociais, com destaque para o movimento estudantil. Porém foi escassa a participação da população da zona urbana de Altamira; o movimento local vive um processo de esvaziamento da pauta por parte de algumas lideranças, desde a visita do ex-presidente Lula à Altamira.
Apesar de algumas intervenções no Seminário balizarem numa linha burocrática e “legalista”, prevaleceu durante as discussões a perspectiva de práticas mais radicalizadas. O que se percebe é uma clara convergência para ações incisivas, devido aos desgastes das negociações nos marcos “legalistas” com o governo. Contudo, uma preocupação que perpassa o planejamento dessas atitudes enérgicas são as reais possibilidades de resistência do movimento acampando ações prolongadas.
Alguns setores propuseram um ato de enfrentamento aproveitando os participantes e delegações presentes no seminário, mas sem considerar a dinâmica do movimento indígena, das comunidades tradicionais e movimento local. Tai linha de intervenção pareceu ignorar quem são os principais sujeitos políticos do processo: os povos do Xingu, os quais devem protagonizar o enfrentamento ao Belo Monstro.
Assumindo o protagonismo do processo de resistência, indígenas Kayapó, em conjunto com a colônia de pescadores, propuseram radicalizar as ações. Em reunião no segundo dia do seminário (26) os participantes do seminário, por unanimidade, decidiram pela ocupação dos canteiros de obra da UHEBM.
O formato desta primeira ação teve um caráter de intimidação, reafirmação e fortalecimento da pauta, apesar de vários fatores não colaborarem - principalmente de monta financeira - para a aplicação, nesse momento, de uma ofensiva estendida.
Após várias horas de discussão e planejamento da ocupação, decidimos sair de Altamira às 3h da madrugada. Cerca de 8 ônibus saíram em comboio da orla da cidade no horário programado, chegando por volta das 5h30min no canteiro de obras. Uma das nossas primeiras ações foi o fechamento da Transamazônica. Indígenas Kayapó montaram acampamento no meio da rodovia, enquanto outro grupo ocupou o canteiro.
Dada as proporções desse projeto de morte, o que se observa no local é um forte processo de estruturação da obra. Alojamentos e galpões já estão erguidos, milhares de vigas de ferro estão à mostra por toda a área, e há um enorme contingente de maquinas pesadas. Por se tratar de uma região montanhosa, toneladas de areia foram movimentadas para nivelar o terreno. Ao que tudo indica, os trabalhos estão em intenso andamento, o que é alarmante. Conter as atividades no canteiro de obras é extremamente importante e deve ser feito agora! As obras caminham a passos largos, nosso movimento deve antecipar-se a eles.
Durante todo o dia ocupamos o canteiro, e apesar de incisiva nossa a ocupação foi pacífica. Por volta das 16h um oficial de justiça, acompanhado dos advogados da Norte Energia e uma equipe policial, chegaram com uma mandado de reintegração de posse. Exigiam a retirada imediata de todos acampados no local. Assinalando a estratégia de criminalização do movimento, os advogados da NESA miravam em figuras isoladas, na tentativa de mover uma ação judicial as lideranças, dada a dificuldade de pressionar o coletivo. Marco Apolo, presidente da Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos (SDDH), interviu na investida da NESSA, advogando a favor do movimento. "Protestar é um direito de todos, manifestar-se não é crime, pois foi ocupando ruas que derrubamos ditaduras e conquistamos muitos de nossos direitos nesse país!", afirmou.
Em assembleia no final da tarde, os Kayapós decidiram que iriam se retirar do local, não pela intimidação policial, mas por considerar vitoriosa a ação, alcançando os objetivos iniciais pretendidos. Repercutido nacional e internacionalmente, o ato foi um indicativo de uma nova forma de atuação dos povos da Amazônia. Novos capítulos virão!
Águas para a vida não para morte!
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* Felipe Bandeira faz parte da direção provisória do DCE-UFOPA e é militante do Juntos! Juventude em luta. Participou do Seminário mundial contra Belo Monte e da ocupação do canteiro de obras da usina.
Concordo plenamente com o ato e as manifestações no canteiro de obras da usina Belo Monstro, mas isso não repercutiu nacionalmente, não pelas emissoras de TV, pode ser que as redes sociais tenham comentado sobre o ocorrido.
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