quinta-feira, 17 de outubro de 2013

O Blog da UES começa a partir de hoje uma série de artigos sobre a formação econômica social e política do Brasil. Nossa estrutura colonial, nossa “independência” negociada - sempre de cima para baixo - mostram as relações estruturais da nossa formação capitalista dependente e subdesenvolvida. O Brasil de hoje ainda mantém intactas relações sociais dos tempos de colônia. Discutir nosso passado é fundamental - sem embelezá-lo - nem tão pouco mistificá-lo. Afinal, ainda somos fadados a ser o país do futuro, quando nosso passado e presente nos condenam.

Boa Leitura!

Formação Econômica do Brasil – Colônia

                                              Por Felipe Bandeira[i]






A razão de ser da colônia portuguesa na América, antes de tudo, estava ligada as circunstâncias desdobradas no outro lado do Atlântico. O desenvolvimento secular de Portugal possibilitou um acúmulo técnico capaz de torná-lo “senhor dos mares”, ao ponto de desenvolverem a época um moderno sistema de navegação que proporcionou a Portugal um intenso desenvolvimento econômico, sobretudo devido às relações comerciais com a região da costa ocidental da África.

As terras americanas representavam uma etapa consubstancial desse desenvolvimento e não era estranho que estas se justificassem – pelo menos para a metrópole – pelo imaginário de riquezas e metais preciosos infindáveis. Não aspirava ao interesse português, pelo menos de início, montar na colônia americana uma empresa agrícola, haja vista o imenso custo que representava investir em um empreendimento de proporções considerável em terras tão distantes. Além do mais, como assinala Celso Furtado, os recursos que dispunham Portugal para manter improdutivamente o Brasil eram limitados, apenas os metais preciosos compensariam tamanha empreitada.

A legenda de riquezas inapreciáveis por descobrir corre a Europa e suscita um enorme interesse pelas novas terras. Esse interesse contrapõe Espanha e Portugal, “donos” dessas terras, às demais nações européias. A partir desse momento a ocupação deixa de ser um problema exclusivamente comercial: intervêm nele importantes fatores políticos. Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil. Companhia das letras, 2007. (Pag. 26). 

Cada vez mais as circunstâncias empurravam Portugal para a ocupação definitiva das terras americanas, do contrário, ficava evidente que perderiam estas, juntamente com a tão sonhada riqueza mineral, que somente no século XVII Portugal “desfrutou”. Dado o malogro de suas aspirações, a ocupação americana para o pequeno reino ibérico devia assentar em uma base material que tornasse viável o empreendimento e possibilitasse a defesa de suas terras da forma menos onerosa possível. A experiência das ilhas do Atlântico e o comércio africano, de certo, possibilitaram o acúmulo empírico para a possível “solução”. Descartadas as condições ideais, a implantação da atividade agrícola foi a alternativa econômica encontrada por Portugal, mergulhado em condições adversas que o punham entre a cruz e a espada.

A grande lavoura açucareira foi o centro de sustentação da ocupação portuguesa na América. A cana de açúcar tornou possível a colonização, não por ser em si um produto que agrega grande valor, capaz de cobrir todos os custos e esforços despendidos – apesar de neste período o açúcar despontar como um produto muito lucrativo para o comércio europeu. Portugal tinha a atividade situada num nível secundário, redutível a uma tática de proteção das terras. Ademais a grande propriedade, o trabalho escravo e a monocultura já não eram palavras estranhas aos portugueses, que desde pelo menos a segunda metade do século XV já alcançaram alta produtividade de açúcar nas ilhas da Madeira e São Tomé, palco incipiente do método agrícola de ocupação lusitana.

Graças a essa experiência, sobretudo a experiência das ilhas do Atlântico, pôde se desenvolver em Portugal a indústria para os engenhos açucareiros, além dos avanços técnicos para a produção do açúcar. A produção deste artigo na Europa já era difundida, no entanto, eram enormes as dificuldades para se ter acesso aos equipamentos e técnicas, haja vista a política protecionista da produção do açúcar pelos italianos – detentores do monopólio açucareiro – que mantinham a sete chaves os progressos técnicos para um produto de alta qualidade.

O fato é que Portugal era, já no século XVI, um produtor açucareiro de envergadura e criara uma ampla experiência comercial colaborando para uma ruptura do monopólio italiano e a conseqüente baixa do preço do açúcar.

A produção açucareira no Brasil elevara a um nível maior a produtividade portuguesa, ao passo que cada vez mais a etapa comercial tornava-se imprescindível para a absorção produção na Europa. Neste sentido, o êxito da empresa agrícola no Brasil é tributado, sobretudo, pela contribuição Holandesa, pois era este um país altamente especializado no comercio intra-europeu:

(...) A grande expansão do açúcar na segunda metade do século XVI, constituiu um fator fundamental do êxito da colonização do Brasil (...). [os holandeses] eram nessa época o único povo que dispunha de suficiente organização comercial para criar um mercado de grandes dimensões para um produto praticamente novo como era o açúcar. Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil. Companhia das letras, 2007. (Pag. 33). 

Outro fator que contribuiu para a implantação da empresa agrícola no Brasil foram os capitais empregados nos engenhos. Sobre esta questão particularmente os holandeses - que além de controlar a comercialização do produto - investiram no Brasil os capitais para por em funcionamento a produção. Os grandes financiadores holandeses viam no açúcar uma doce fonte de lucros. Na verdade, estes poderiam ser considerados os verdadeiros “donos” do negócio.

Se se tem em conta que os holandeses controlavam o transporte (inclusive parte do transporte entre Brasil e Portugal), a refinação e a comercialização do produto, depreende-se que o negócio do açúcar era na realidade mais deles do que dos portugueses. Somente os lucros da refinação alcançavam aproximadamente a terça parte do valor do açúcar em bruto. Celso Furtado, Formação Econômica do Brasil. Companhia das letras, 2007. (Pag. 34).
Não obstante o problema da mão de obra era cada vez mais grave. Portugal padecia de escassa população, além do mais, as condições de trabalho e funcionamento da empresa exigiriam altos salários aos europeus que aceitassem trabalhar na colônia. A oferta de enormes áreas de terras não gerava atração suficiente para suprir a demanda requerente de mão de obra. Sob este aspecto, foi decisivo para Portugal o vasto conhecimento com o mercado africano de escravos, que já estava suficiente organizado e evoluído para fornecer a mão de obra necessária. O escravo tornou possível a empresa agrícola, sem a qual provavelmente tornaria inviável todo o empreendimento.

1 - A condição colonial

A exploração agrícola não se processou de forma rigorosa e organizada. Os processos se fizeram antes sobre um aspecto de desleixo. O início penoso do processo de ocupação engendrava o fôlego secundário de Portugal, que tinham no comercio de especiarias com as Índias Orientais lucros imediatos. A grande lavoura, da forma como se praticou no Brasil era bastante rudimentar e refletia o aspecto atrasado da organização da colônia. O sentido de fornecer à metrópole os gêneros que precisassem, e subordinar toda a estrutura econômica a este fim, tornou estanque a organização colonial.

O latifúndio, neste sentido, era imperativo, da qual deveriam produzir sempre em grande escala e para fora. As outras tarefas subsidiárias, como a pequena agricultura, visavam somente ser aportes da atividade fim. O espaço rural era o verdadeiro palco histórico. Nele se consolidou o latifúndio, a monocultura, a escravidão, a aristocracia rural.

O engenho foi a unidade produtiva do Brasil colônia. Constituía um mundo imbricado de relações de poder. Essas relações, no entanto, não eram em essência capitalista, pois a própria aristocracia agrária não absorvia o controle da economia e ocupava uma posição marginal do circuito externo de mercantilização dos produtos exportados.

(...) As funções econômicas do senhor de engenho quase que equivaliam, no âmbito do referido circuito [circuito externo de mercantilização], às dos administradores e beneficiários das feitorias. Assim as influências dinâmicas que o capitalismo comercial poderia exercer, em outras condições, sobre a organização e desenvolvimento da economia interna, eram pura e simplesmente neutralizadas. Florestan Fernandes. A Revolução Burguesa no Brasil. ZAHAR editora. 2ª edição, 1976. (Pag. 22).

Desta forma, têm-se as relações complexas entre colônia e metrópole implicando disputa de poder, na qual, tem como base a acumulação de capital e a consolidação capitalista. Nosso capitalismo atraso e dependente constituem a grande chave para entender o Brasil de Hoje.


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[i] Coordenador Geral UES, estudante de Economia UFOPA e militante Juntos!

terça-feira, 15 de outubro de 2013

    Madeira ilegal na Amazônia chega a 80% da extração anual.


Por Charlison Corrêa[i]

A cada ano, cerca de 30 milhões de metros cúbicos de madeira são extraídos da Amazônia. Em 2009, foram identificadas 2.227 empresas que realizavam a exploração, e uma receita bruta de 4,94 bilhões de reais, sendo o Estado do Pará responsável por 43% do montante. Em regra, a atividade se estrutura a partir da grilagem de terra, da expulsão de trabalhadores rurais, e da derrama de sangue de lideranças do movimento campesino.

Na grande maioria das vezes, a exploração de madeira é feita sem autorização e sem o plano de manejo florestal. Na Amazônia, estima-se que cerca de 80% da extração anual de madeira seja de origem ilegal. E quando legalizada, conta com a frouxidão da fiscalização do Estado. 

Para ilustrar esse quadro, ocorreu um caso emblemático em novembro de 2009 em Santarém, onde ribeirinhos e indígenas atearam fogo em duas balsas carregadas de madeira no rio Arapiuns. Em nota, os manifestantes exigiam a demarcação de suas terras, e a imediata expulsão das madeireiras.

Índios da etnia Borari e Arapium destacavam a omissão do governo, e acusavam a Secretaria de Meio Ambiente do Pará de permitir o manejo irregular do território, do qual reivindicam como posse dos povos tradicionais.

Os conflitos se intensificaram a partir da decisão do governo do Estado em arrendar milhares de hectares da floresta para a exploração dos recursos naturais. A justificativa seria a maior eficiência na gestão da floresta, tornando o Estado do Pará um produtor competitivo no cenário global. Esta ação seria coordenada pelo Instituto de Desenvolvimento Florestal do Estado do Pará (Ideflor) em parceria com a Secretaria de Meio Ambiente (SEMA). 

Em entrevista concedida ao portal EcoAmazôn, alguns meses antes da queima das balsas, a então diretora do Ideflor, Raimunda Monteiro, afirmou que o Estado estava procurando meios de negociação e conciliação entre as partes, haja vista que os interesses dos madeireiros e dos movimentos sociais não eram contraditórias, pois os empresários reconheciam os direitos das comunidades como primordiais. 

No entanto, ao contrário do que afirmou Raimunda Monteiro, na prática, não há como conciliar interesses tão divergentes. O discurso da então diretora do instituto, em síntese, fazia coro com o projeto histórico de ocupação da Amazônia, inaugurado, sobretudo, durante o regime militar.

A apropriação do território na Amazônia acontece, principalmente, por atividades econômicas altamente capitalizadas e voltadas para a exportação. Esta é a base em que se assentam os conflitos. Não há como conciliar interesses tão divergentes pela fórmula básica: incentivos econômicos para uns, e depois de feito o estrago, políticas reparatórias para outros. A conciliação de interesses nessas circunstâncias consiste numa derrota para os movimentos sociais. 

Podemos dizer que os problemas da Amazônia, os fundamentais, já estavam definidos e postos em equação pelo menos 40 anos atrás. A exploração mineral, a pecuária, a extração de madeira, e mais recentemente o avanço da fronteira agrícola representam a continuidade do mesmo projeto. 

É importante ressaltar, que a velocidade de destruição da floresta - e os protagonistas por tal destruição - têm variado, mas é cada vez mais importante o papel das madeireiras nesta degradação. 

No que tange as políticas públicas e ambientais para solucionar o quadro das ilegalidades, o que se observa é uma enorme ineficiência na fiscalização e na punição dos crimes ambientais na Amazônia.

As frentes pioneiras, por conseqüência, abocanham cada vez mais os territórios dos povos tradicionais. É necessário uma ofensiva dos movimentos sociais, para enfrentar as forças do capital. Como dizia certa frase dos índios Mundurukus. Nossa Terra, nossa luta!

Conciliar, significa baixar a cabeça! 




[i] Diretor da UES, estudante de Gestão Ambiental na UFOPA e militante do Juntos! Por outro Futuro!

domingo, 13 de outubro de 2013

A morte e vida Severina de tantas Marias no nordeste de Minas Gerias. No Jequitinhonha, não somente o chão rachado, o gado magro e ossudo, a voz introspectiva das mulheres, dizendo mais pra dentro do que pra fora, é a solidão companheira de berço dessa gente. Esquecidas entre morro e morro, viúvas de maridos vivos, mantém sempre a esperança em que um dia tudo vai “miorar”. E não há como negar que a Esperança sempre foi o primeiro impulso para as grandes transformações.

Sakamoto, nesta matéria mostra como um jornalismo comprometido é possível. Publicada em junho de 1999, traz um debate fundamental para entender o Brasil de hoje.

Boa Leitura!


As viúvas do sertão

Por Leonardo Sakamoto*


Visita, em maio de 1998, às cidades que convivem com o drama das “viúvas de marido vivo”. O jequitinhonha expulsa homens, deixando mulheres sozinhas contra a realidade do nordeste de Minas.

Rosto sulcado pelo tempo, como os leitos dos rios fantasmas que assombram a região. Pele e corpo ressecados, feito a terra, outrora fértil que hoje se desfaz em areia levada pelo vento. Olhar profundo e vazio, o mesmo vazio a que está acostumado o prato do sertanejo. A baixa estatura quase não deixa sombra. Também, pudera! O sol a pino fica a caçoar de sua cabeça e, se não ofusca diretamente, cintila em todo o chão até onde a vista alcança. Resta proteger a moleira, então em um passe de mágica balde d’água vira cartola. E assim como surgiu, lenta e pacientemente, desaparece por entre galhos retorcidos, vacas magras e ossudas, morros brancos e poeira da estrada.

Aos 72 anos, Maria José é uma mulher de sorte. Afinal de contas, apesar de caminhar mais de 10 quilômetros em busca de água, sabe que não é sozinha. Maria José possui um companheiro que estará lá quando ela voltar, brigando com a terra na luta pelo sustento.

Infelizmente, ela é a exceção, não a regra. O chão, há vários meses, não vê chuva que dê para o cultivo. A seca que atinge todo o Nordeste expulsou maridos, pais e filhos do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Para sobreviver foram obrigados a migrar, principalmente para o interior do Estado de São Paulo, servindo como mão-de-obra barata às usinas no corte da cana-de-açúcar.

Como os homens passam a maior parte do tempo trabalhando fora, as “viúvas de marido vivo” – como são chamadas a contragosto suas esposas – acabam se tornando a duras penas chefes de família.

Esse fenômeno ocorre com mais freqüência na região do médio Jequitinhonha – compreendendo cidades como Araçuaí, Itinga, Coronel Murta, Chapada do Norte e Virgem da Lapa, além de uma série de povoados e vilarejos sertão adentro. Cidades como Itinga apresentam, de acordo com o censo 1996 do IBGE, 70% de sua população dispersa pela área rural. São empregados de grandes fazendas ou pequenos proprietários de terra em seus sítios de alguns alqueires. Quando chove, é possível arrumar um emprego na lavoura ou plantar a sua própria roça. Isso, quando acontece, é próximo ao mês de dezembro. Contudo, com a estiagem, a terra não consegue segurar o trabalhador no campo. E a busca na cidade é quase inútil. Não há vagas, nem no pequeno comércio local, nem na prefeitura – que muitas vezes já dedica mais verba do que é permitido por lei à folha de pagamentos dos funcionários.

A solução aparece na forma dos ônibus mandados pela indústria canavieira paulista ou matogrossense. Em cidades como Sertãozinho, Bauru e Ribeirão Preto estão espalhadas as gentes do Jequitinhonha. E o processo de vai-e-vém não é recente, como a seca também não é. Tanto que, não raro, as pessoas rompem a corda desse iô-iô humano e acabam ficando no sul.
                                           Bordado produzido pelas mulheres de Itinga


“Tenho três filhos em São Paulo. Um foi há pouco tempo. E esse sei que volta. Agora, dois deles já estão morando lá com família e tudo”, conta Joaquim, que ganha a vida apanhando lenha e vendendo às padarias e fornos de barro. Com nove filhos no currículo e muito trabalho nas roças, ele e Geralda, sua mulher, moram em uma casa do Mutirão. Construído com a ajuda da prefeitura, em parceria com as associações religiosas e de moradores, esse conjunto de 20 casas coloridas à beira da BR-367 tem uma história peculiar. De acordo com Helena, da Associação das Mulheres do Bairro Porto Alegre (AMBAPA), em Itinga, o Mutirão foi erguido para abrigar as viúvas que ficavam sozinhas no campo enquanto seus maridos migravam. Hoje, boa parte dos homens está de volta – mas por pouco tempo.

Emanuel está de passagem. Espera o pouco dinheiro que conseguiu juntar acabar para poder retomar o seu rumo em direção sul. Reclama que, apesar da carteira assinada, não consegue obter o salário desemprego. “As usinas não dão os papéis de que eu preciso. E o governo disse que sem os papéis nada feito.” Os papéis a que ele se refere é a rescisão do contrato de trabalho. Muitas empresas não emitem toda a documentação, burlando assim o fisco e pagando menos impostos. O que, é óbvio, afunda ainda mais o cortador de cana na lama, ou melhor, na areia seca do sertão.

Durante o tempo em que estão fora, os homens mandam o pouco que recebem para a família. Três, cinco, sete têm que se virar às vezes com 80, 120 por mês. Francisca, mãe de dois filhos e com um terceiro no ventre, é uma privilegiada. Não tem que dar de comer a muitos com seus R$ 80,00.
                                       Pedro Maroto retira água de cacimbas para viver


Mesma sorte não tem Pedro Maroto. Alto, voz de barítono, como um chefe de clã fala com orgulho de sua propriedade – um pequeno sítio próximo ao vilarejo de Teixeirinha. Apesar de não ser uma viúva, pena como tal. A sua aposentadoria e de sua mulher (uns R$ 250,00 no total) é responsável pela sobrevivência de 12 pessoas. Produção quase não há. O córrego que cortava sua terra secou há tempos. O jeito foi improvisar, através da solução mais comum na região: sangrar o leito seco até alcançar água. Contudo, até as cacimbas estão secando. “A gente vai cavando, cavando e cavando, cada vez mais fundo para achar água. Se fizesse um poço, teria água aqui. Mas com que dinheiro?” Se é que se pode chamar de água o caldo amarelo retirado dos buracos no chão. “E eu ainda tenho sorte. Moro em um vale de um rio, dá para cavar cacimbas. Tá vendo o sítio no alto daquela montanha? E eles, como é que ficam? Têm que descer até aqui e pegar água comigo. Caminhar muito.” Se não bastasse, Pedro Maroto ainda divide o parco caldo com os animais da propriedade.



Apesar da aridez da paisagem é fácil identificar onde estão os leitos secos. É só seguir a estreita linha verde que vai fazendo seu caminhar sinuoso pelos vales. As cidades, por enquanto, não sofrem de falta de água. Em Itinga, o perene córrego Água Fria – que, diga-se de passagem, não é grande coisa – abastece a zona urbana. A pobreza, que se faz presente no campo, também encontra aqui lugar para crescer e se multiplicar. Se a seca bate forte em todo o Jequitinhonha, o desemprego é o problema que mais preocupa os moradores.

Os efeitos da estabilização econômica do Governo Federal têm gerado uma desestabilidade emocional nos habitantes. Para fugir da realidade da miséria, vários se entregam à bebida. São muitos os casos de alcoolismo e, portanto, não raro as mortes por cirrose hepática. E em se tratando de doenças, o Vale está bem servido. As constantes pressões a que são submetidos os trabalhadores do corte da cana, aliadas às condições insalubres e às longas jornadas, têm provocado o aparecimento de uma doença até então reservada às metrópoles. A hipertensão atacou os maridos de Maria, Rosa, Geralda, Joana e os de um sem número de mulheres, que agora se entopem de medicamentos.
                                 Forno de tijolos e de carvão são comuns em todo o Vale


O Vale do Jequitinhonha é uma das regiões mais ricas em minérios em todo o Brasil. Berilo, cassiterita, feldspato, lítio, água-marinha, nióbio, turmalina, ouro, diamante. Cidades com nomes de pedras é que não faltam em todo o Vale: Topázio, Turmalina, Berilo, Carbonita, Pedra Azul, Diamantina. E como não poderia deixar de ser, empresas mineradoras também não, como a Arqueana e a Sandspar. A mineração é outro grande empregador da região, mas também uma grande fonte de problemas. De acordo com Joaquim, médico em Itinga, a incidência da silicose em Taquaral é de 15%. A doença, causada pelo pó do interior das minas, literalmente destrói os pulmões. Este é o caso de Roberto – que teve que vir a São Paulo para se tratar de uma insuficiência respiratória que ganhou como recompensa por trabalhar nas minas. Isso sem contar a contaminação do rio por mercúrio – usado para separar o joio do trigo na mineração.



E não para por aí. De acordo com Josimar, professor em Itinga, a mineração tem sido responsável pelo assoreamento do rio Jequitinhonha. Dragas lavram a terra em busca de minérios, atirando o cascalho no seu leito. Com isso, ele vai se tornando cada vez mais raso e largo – processo semelhante ao que ocorre nos rios Pinheiros e Tietê na cidade de São Paulo que, periodicamente, têm que passar por uma limpeza de suas calhas para que não transbordem. Segundo Josimar, previsões apontam para uma morte do Jequitinhonha em 20 anos se o despejo continuar.

Porém a pior doença não é causada pelo ar, água ou trabalho e sim pela distância. As mulheres vêem seus maridos irem embora e, apesar da tristeza, enchem-se de esperança. A esperança de que eles voltem bem e rápido para os seus braços. Dedicam-se então a criação da prole – grande na maioria das vezes, impossível de ser contada em mão só. Cartas são quase sempre o único meio de comunicação entre o casal por anos a fio.
                                   Casa no bairro do Mutirão, erguido para ajudar as viúvas


E o peito começa a apertar quando o número de páginas vai se escasseando, a freqüência diminuindo, quando a saudade escrita já não convence. O coração fica mirradinho, mirradinho. Não são poucos os homens que, longe de casa, arrumam uma outra mulher. O marido de Ritinha foi trabalhar em São Paulo. No princípio ela foi junto, acompanhá-lo. Antes unidos nas dificuldade, do que separados. Pouco depois, ele a mandou de volta. Com o passar do tempo descobriu-se que tinha outra. Ficou arrasada. Inconstante, o homem mandou essa outra embora também. Justiça ou coincidência, adoeceu em seguida. Agora, está pedindo para voltar. A princípio Ritinha não queria. Mas, agora, repensa a possibilidade. “É difícil criar os filhos sozinha”, completa sua irmã.

E as novidades não ficam apenas em uma nova cama. Às vezes se estendem também para uma nova casa, novos filhos. Enfim, uma nova vida. Eliane passou por poucas e boas para ficar com o homem que amava. Com a família de seu marido a detestando, casaram-se. Como via de regra, ele foi obrigado a trabalhar no corte da cana no Mato Grosso. Veio a primeira filha e ele estava longe. No começo, ficava um tempão fora, mas voltava. Um dia foi e não voltou. Passaram-se meses, anos. No começo as cartas chegavam. Depois foram desaparecendo. O dinheiro idem. Eliane passava dificuldades, mas agüentava na esperança de rever o marido.

De repente reapareceu. Fez um filho e sumiu de novo. Ela, cansada arranjou um companheiro. Pouco depois começou a freqüentar a igreja evangélica. E então fizeram-na escolher: ou seu companheiro ou Deus, pois ela, uma mulher casada nos laços sagrados do matrimônio, não poderia viver em pecado com seu esposo ainda vivo. Ficou sozinha com Deus. O marido reapareceu mais uma vez e disse que desta vez seria para sempre. Eliane não quis – afinal de contas não era nenhuma palhaça -, mas devido a insistência da filha, voltou.

Um tempo depois ele confessou que formou família em São Paulo, com outra filha e tudo. Ela enraiveceu, mas como, segundo ele, tudo tinha acabado, perdoou. As coisas apertaram e ele voltou às usinas de cana. Então Ritinha soube da notícia que o marido havia morrido de ataque cardíaco. Hoje, trabalhando como empregada, não sabe mais o que fazer para sustentar os quatro filhos, além das constantes crises de depressão da mais velha. Pensão, nem pensar. Provavelmente a outra família de seu marido é que a está recebendo do governo. Eliane tentou entrar na Justiça, mas não conseguiu. Faltam documentos que estavam com ele e “magicamente” desapareceram.
                                                       Mercado municipal em Itinga


A seca destrói a vida de todos. Contudo a natureza não pode ser a única a sentar no banco dos réus. Os governos têm uma grande parcela de culpa nessa história. Ao contrário de outras regiões do país em que se espera grandes projetos de transposição de águas para viabilizar a agricultura, no Vale seria necessário menos do que se imagina. O rio Jequitinhonha tem água em abundância, o local possui uma das melhores terras para o plantio de frutas no Brasil. A solução estaria em um programa decente de irrigação. Tanto é que nas pequenas áreas que possuem água para o plantio, florescem mangas, canas, melancias, uvas, amendoins, verduras, legumes. Verdadeiros oásis no meio do sertão.



É paradoxal: como famílias inteiras passam fome, como esse Vale pode ser pobre se sua terra é tão fértil? Ou mais, se uma artéria a céu aberto rasga a região? É absurdo pensar que Maria José tenha que andar tanto em busca de água se não muito longe de sua casa o Jequi corre em direção ao mar. Projetos até existem, mas faltam dinheiro e boa vontade política.

E a ajuda nunca vem. Por que, afinal de contas, olhar para o Vale do Jequitinhonha? Apesar da grande extensão territorial os votos não são tantos assim. É mais negócio concentrar esforços para agradar eleitores do Triângulo Mineiro, região da Grande Belo Horizonte ou Sul de Minas. A relação custo-benefício é mais vantajosa.

E maridos, pais e filhos continuarão sendo retirados à força de suas terras para trabalhos insalubres. Esposas, filhas e irmãs continuarão a amargar a solidão da seca. Ao invés de fazer com que o trabalhador permaneça nas suas origens, gerando emprego, fazemos com que ele acabe vindo às grandes cidades do Sul e ser mais um nos bolsões de pobreza que salpicam as capitais.

O futuro é incerto. Marias, Geraldas, Ritinhas, Elianes, Helenas, Rosas, Emílias, Joanas são várias e na verdade são uma ao mesmo tempo. Não precisam de sobrenome. Você as encontra ao longo de todo o Vale. As histórias são as mesmas, o sofrimento igual, as incertezas idem. Certo mesmo é o rio, que continuará a correr embalando a fome e a seca em suas águas num ciclo interminável na direção do mar.
                                                   Emília diante de horta comunitária


Mulheres do mundo, uni-vos!

Baixinha, tranqüila, de fala calma e sossegada. Assim é Emília, coordenadora da Associação das Mulheres de Itinga (AMAI) que por onde passa é saudada. Na verdade, abordada. Emília ajuda a promover a distribuição das cestas básicas que chegam à cidade por intermédio do governo e de doações destinadas à seca. “As cestas não vem em número suficiente e é impossível servir a todos. Uma vez temos que ir à zona rural, outra, distribuir à cidade. Sabemos que passam fome mas não dá para fazer muito”. Enquanto fala em frente aos mantimentos, desaparece em meio à multidão que a cerca. “Esse trabalho assistencialista não é o ideal. O certo seria um jeito de dar emprego a essa gente”.

Se ainda não encontrou a saída para os seus problemas, Itinga já deu um grande passo na mobilização de suas mulheres. As duas associações possuem padarias, oficinas de costura, aulas de alfabetização e supletivo, fabriquetas de absorventes e fraldas descartáveis. Além das hortas comunitárias, divididas igualmente entre as famílias, com irrigação artificial. “Por enquanto tudo isso é insuficiente para garantir o sustento, mas todos estão vendo que é possível melhorar a situação”, completa Emília.

Itinga era conhecida como a cidade das viúvas, tamanho o número de incidências desse tipo. A prefeitura e a Igreja Católica têm realizado mudanças nas áreas de moradia popular, saneamento básico, saúde e cultura. A participação política dessa cidade mudou radicalmente. Com o segundo mandato consecutivo em vigor, o PT abriu um espaço maior para a discussão dos problemas. Para se ter uma idéia, os orçamentos da prefeitura e da câmara dos vereadores são pintados todos os anos nas fachadas desses prédios.

A eleição de um partido de esquerda tirou do poder as “famílias” que até então mandavam na política da cidade: os Murta, os Gusmão, os Evangelista, entre outros. Atualmente, a cidade vizinha, Araçuaí, também possui um governo do PT.
                                     O Jequitinhonha é famoso pelo artesanato em barro


Ao longo do rio, a arte brota da seca


Ao longo da BR-367, no povoado de Pasmado, estendem-se fileiras de vasos, jarros, cumbucas, panelas e outras peças de barro feitos pelas mulheres da região. As “poteiras”, como são chamadas, moldam com as próprias mãos sem a ajuda de tornos. Os homens, dedicam-se à fabricação de artefatos de madeira. Infelizmente até nisso o povo da região é sacrificado: são obrigados a comprar o barro de uma propriedade particular.

O artesanato em barro e madeira, característico da região, já alcançou renome internacional através de das mãos do artesão Ulisses, em Itinga. De acordo com Sebastião Rocha, pesquisador de cultura popular do Vale, o “artesanato local retrata, de um lado, a identidade cultural de sua diversificada população, dividida entre o sonho e a luta, o anseio de dias melhores e o fatalismo histórico da pobreza, da esperança e a submissão, a espera da vinda do Messias e busca armada pelos direitos humanos”.

Vale do Jequitinhonha, Junho de 1999


Fonte: http://reporterbrasil.org.br/1999/06/as-viuvas-do-sertao/
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*Leonardo Sakamoto é jornalista e doutor em Ciência Política. Cobriu conflitos armados e o desrespeito aos direitos humanos em Timor Leste, Angola e no Paquistão. Professor de Jornalismo na PUC-SP, é coordenador da ONG Repórter Brasil e seu representante na Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo.

sábado, 12 de outubro de 2013

Por Felipe Bandeira

Dias das crianças a gente fica pensando de quando era criança também. Lembrei de uma história de empapar os olhos d’água. Muitos anos atrás havia um lugar de quintal grande, em ponto remoto, perto do igapó, num covão em trecho de mata densa. Morava lá certo menino, devia ter uns 7 anos. Quando completara seis, já garantia voltar da escola na garupa da bicicleta do pai. Das idas e vindas guardava lembranças aturdidas, mas de uma nunca pôde esquecer: No meio das andanças, seu pai lhe apontou um senhor com uma sacola grande pendurada nas costas: - Lá vem o Faruca!

O menino suspirou fundo, sentia salpicar as mãos e o rosto, morria de medo do velho, do qual, havia de pegar as crianças traquinas para colocava dentro da sacola. Não tardou para soltar os berros, querendo descer a força da bicicleta, queria fugir antes de qualquer impulso do vilão. Seu Faruca aterrorizava a todos da redondeza, até mesmo seu irmão mais velho tremia de medo em sua presença.

Quando voltou para casa, seu maior pensamento era a notícia de que havia escapado das garras do Faruca. O coração parecia solto da caixa do peito, de tanta que era a aflição em contar depressa tudo pra mãe, mal conseguia dizer o que tinha visto, parecia estar febril das pernas.

Seu Faruca devia catar latas, vender alumínio, ou coisa do tipo. Mal consigo lembrar da sua feição. Um dia me disseram que Faruca havia morrido.

Saudade do velho!
Por Felipe Bandeira[i]





“Nascemos sob a égide do genocídio … a assimilação (nacional) se deu através do estupro das nativas e negras pelos brancos colonizadores”. Com essas palavras, Luiz Ruffato inicia o discurso de abertura na feira do livro de 2013, em Frankfurt. Tal pronunciamento causou estardalhaço e indignação entre os “intelectuais” que se conservaram em silêncio consternado durante o discurso.

Em nota, o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, diante das “repercussões negativas do fato”, considerou que as palavras de Luiz acabam por denegrir a história do Brasil.

Para o instituto, com ideias cheirando a naftalina, nossa história seria mais ou menos assim:

As doces chicotadas desferidas nas costas dos negros fujões ilustravam a harmonia da colonização. No fim das punições, como prova de zelo e humanidade, jogava-se vinagre e sal para evitar infecções. O genocídio dos índios e a miscigenação com o branco serviram para deixá-los menos preguiçosos.

A respeito do latifúndio, este inaugurou uma era de prosperidade sem fim. O açúcar nos presenteou com esse espírito acolhedor, adocicado nas veias. Nossos metais geraram enormes riquezas. E graças aos bandeirantes temos um território de dimensões continentais!

Lembrando de um encontro do G sei lá das quantas, em que se discutia a dívida externa da América Latina, em 2012, os países do euro se esforçavam em demonstrar a necessidade de aumentar os juros aos caloteiros terceiromundistas. Ocorre que nesse encontro houve um desses discursos polêmicos, não de Ruffato, mas de Evo Morales, presidente da Bolívia.

Evo lembrou da dívida de milhões de toneladas de ouro e prata extraída do seu país durante os séculos da colonização espanhola. E antes que dissessem que suas palavras representavam uma fronta a história do seu país, fez questão de lembrar que tudo o que havia falado estava comprovado papel por papel, timbre por timbre nos documentos históricos da Bolívia e dos países do homem branco. Sem falar do sangue do seu povo derramado...

As falas de Ruffato e Evo mostram que não dá pra embelezar nossa colonização. Não dá para esquecer, que por conta da nossa estrutura colonial que hoje o negro é massacrado nas periferias, que as terras indígenas cada vez mais sedem lugar ao gado e a soja, que mulheres são diariamente violentadas, estupradas, e pior, culpabilizadas. Também contabiliza na conta da colonização, a permanência do trabalho escravo, da exploração do trabalho infantil.

Enfim, como disse Caio Prado Jr, o Brasil é um país “privilegiado”, pois hoje podemos visitar nosso passado sem problema algum, é só olhar para o lado, e o pior... para frente.





Leia a nota do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira:

http://ipco.org.br/ipco/noticias/comunicado-imprensa-lamentavel-discurso-abertura-solene-feira-livro-frankfurt#.UljhmdIU8Yo





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[i] Coordenador geral da UES, estudante de Economia UFOPA e militante Juntos!

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

COLUNA PASQUIM UFOPA





Pois bem, este artigo pretende mostrar como Seixas entregou de bandeja nossa biodiversidade Amazônica para o mercado internacional, burlando as leis e institucionalizando a biopirataria. Trata-se de nebuloso contrato entre a Bioamazônia (Associação Brasileira para o Uso da Biodiversidade da Amazônia) e a NOVARTIS PHARMA AG, multinacional farmacológica com matriz na Suíça. Excetuando alguns capítulos, os parágrafos mais importantes desse acordo têm como título: Vende-se a Amazônia! 


Em 29 de maio de 2000, a Bioamazônia assinou o contrato de bioprospecção com a NOVARTIS por um período de 3 anos. Conhecido como acordo de cooperação, a Bioamazônica deveria fornecer a empresa suíça amostras de microorganismos, preparando extratos a partir delas. Essas amostras, e todos os direitos de patentes relacionas a mesma, seriam propriedade da Bioamazônia. Em contrapartida, a NOVARTIS escolheria as amostras (cepas e extratos) para análise e seria proprietária de todas as invenções que resultassem do trabalho com as amostras, inclusive compostos diretos e derivados, que são os compostos resultantes de novas misturas. Lançados os produtos, a Bioamazônia receberia a bagatela de 1% dos royalties sob a venda líquida dos produtos. Uma ninharia! 


O acordo foi rechaçado por amplos segmentos da sociedade, e inclusive pelo próprio Ministério do Meio Ambiente (MMA). O convênio foi considerado ilegal, diziam, ausência de arcabouço legal para rifar a Amazônia ao capital internacional! Devido o reboliço do caso, o acordo teve que ser anulado em 2001. 


O escândalo da NOVARTIS virou notícia em todo o país. Para se ter ideia, o próprio ministro do meio ambiente da época, o famigerado José Sarney Filho, divulgou uma nota alegando que em momento algum autorizava a Bioamazônia a realizar contratos com bioindústrias. 


José Seixas Lourenço, que no governo FHC em 1995, assumira a Secretaria de Coordenação da Amazônia (SCA), teve papel fundamental para a consolidação do caso NOVARTIS. Ocorre que Seixas, na época Presidente do Conselho de Administração da Bioamazônia e Wanderley Messias, diretor Geral da Bioamazônia foram os grandes responsáveis pelo acordo leonino com a gigante farmacológica NOVARTIS. 


O contrato celebrado em Brasília foi realizado como um contrato particular qualquer, sem a participação da sociedade, dos povos da região, como se a Amazônia se reduzisse um novo eletrodoméstico que entrou em liquidação. Uma verdadeira queima de estoque da biodiversidade! 


Os ganhos para a Amazônia provindos do acordo seriam tão escassos, que Mário Palma, professor, pesquisador da UNESP e membro do PROBEM (Programa Brasileiro de Ecologia Molecular para o Uso Sustentável da Biodiversidade da Amazônia), afirmou que o contato não traria nenhum ganho tecnológico e acadêmico, aliás - ressalva – nós é que vamos financiar a NOVARTIS. 


É no mínimo vergonhoso um cara como o Seixas, tendo sua biografia marcada pela privatização da Amazônia, assumir o cargo de reitor em uma universidade tão importante para nossa região, como é a UFOPA. 


A frente da universidade, sua gestão foi como um trator: atropelando tudo e a todos! A abertura democrática só foi possível graças ao esforço e a capacidade de mobilização da comunidade acadêmica que conseguiu arrancar a vitória das eleições. Seixas é do tipo que se sente um peixe fora d’água em órgãos de decisões democráticas. 


Temos uma dívida histórica com a Amazônia: Derrubar os piratas, ou melhor, os biopiratas! 


Quer saber mais?

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

                                                              Por: Francieli Sarturi*



O surgimento do Movimento Feminista em meados do século XIX trouxe enormes conquistas para nós mulheres. Aos poucos fomos adquirindo, através de muita luta o direito de trabalhar, estudar, votar, escolher quando e como ter filhos. O Feminismo foi fundamental para que pudéssemos nos libertar das amarras opressoras da sociedade patriarcal.

Mulheres e homens, nas sociedades primitivas, viviam em um sistema de comunhão, em que a divisão social de tarefas não resultava de um oprimindo o outro. Mas, em algum ponto da história, isso começou a mudar, quando os seres humanos começaram a fixar-se nos espaços e a constituir “famílias”, criou-se a ideia de propriedade: da terra, das coisas, da mulher (que passa a ser um objeto do homem). Foi aí que começou a se disseminar a suposta inferioridade da mulher, pensamento este que começa a ser colocado em xeque a partir do advento do Feminismo.

Certo! Então, nas sociedades primitivas mulheres e homens eram tratados com igualdade (chegaram a existir sociedades matriarcais!); depois os homens decidiram: não! mulheres são objetos, são propriedades, posso fazer delas o que quiser. Bem mais tarde, as mulheres disseram: não! não somos objetos, queremos igualdade! - e aí (através de muita luta) conquistamos vitórias e direitos.

Mas hoje, ainda temos direitos a serem conquistados? O Feminismo ainda é necessário? Muitas pessoas (inclusive mulheres!) responderiam negativamente a esta última pergunta. No entanto, somente no Brasil estatísticas mostram que a cada 15 segundos uma mulher é espancada, todos os anos mais de 40 mil mulheres são assassinadas, a cada 12 segundos uma mulher é estuprada. Nós mulheres sofremos todos os dias com a violência praticada por homens que ainda pensam que somos coisas, e como coisas devemos nos submeter às situações que eles nos impõem.

Todos os dias, como coisas que somos, nos julgam pelo nosso comportamento, nos dizem como falar, vestir, relacionar, nos dizem que temos que ter filhos (querendo ou não), nos dizem que "isso não fica bem para uma mulher", que "em briga de marido e mulher, não se mete a colher e se ela apanhou, alguma coisa ela deve ter aprontado"; todos os dias somos obrigadas a ouvir sem reação na rua um "gostosa", "quero te chupar todinha", ou um simples "moça, você é linda", afinal objeto não deve reagir, deve no máximo sorrir, como se dependêssemos da aprovação masculina para sermos lindas.

Agora eu te pergunto: isso está certo? Claro que não! Por isso tudo é que o Feminismo ainda é necessário, que a luta das mulheres por igualdade é fundamental para a construção de uma sociedade justa socialmente.

Por isso convidamos tod@s a participarem da Oficina do Coletivo Feminista Rosas de Liberdade no VI Festival de Direitos: "Do silêncio ao grito: porque ser feminista", no dia 01/11/2013, das 15 as 18 horas, no Campus Rondon da UFOPA.
Enquanto houver machismo, o Feminismo precisa existir!


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* Integrante do Coletivo Feminista Rosas de Liberdade, estudante de Letras na UFPA e militante do Juntos! 

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Por Felipe Bandeira[i]

Um milhão de indignados ocupam as ruas do Rio de Janeiro exigindo Educação de qualidade!


Não podem nos calar!
Se preciso gritamos com os ossos,
com os restos que nos sobram!
Terra em Transe, Glawber Rocha


Ontem (07), uma nuvem cinza cobria o rosto dos educadores, a fumaça inundava os olhos, bombas estouravam, havia nas ruas um cenário de guerra. Uma senhora limpava as lágrimas com as costas das mãos, tomou novo ar nos pulmões e continuou a gritar com vontade: Contra a força das armas, a força das ideias!

As manifestações no Rio de Janeiro por uma educação de qualidade mostram que a indignação de junho ainda ferve nas veias da população. Os protestos enchem as ruas de esperança e as ruas exigem mudanças.


O plano de Cargos, Carreira e Remunerações do prefeito Eduardo Paes é a rubrica do descaso e da falta de prioridade do governo com a Educação. A tentativa de desmonte, desqualificação do trabalho docente e precarização das escolas tornam cada vez mais a Educação como uma mercadoria. Com isso, o que deveria ser um direito fundamental transforma-se num nicho de mercado.

Sobre o Plano de Paes, como dizia um cartaz, trata-se de um plano de extermínio. A proposta foi votada com o plenário vazio contabilizando 36 a favor e 3 contras. Essa emblemática votação coloca em pé de igualdade a truculência do PMDB e PT, este último com vários vereadores favoráveis a proposta. Cabe lembrar que o vice-prefeito do Rio, Adilson Pires (PT), não soltou um “ái” a favor das mobilizações, ao contrário, faz malabarismo para manter intacto seu gabinete. Queria vê se recebesse salário de professor!

Em resposta ao ataque de Paes, os professores se organizaram numa das maiores mobilizações pela Educação nos últimos anos no Rio. A reposta veio rápido: Spray de pimenta, balas de borrachas, bombas de gás lacrimogêneo e muita cacetada. A truculência da polícia lembrou os anos de chumbo. Paes acompanhava tudo em estado de nostalgia!

O sete de outubro levou um milhão para as ruas contra a política de Educação de Eduardo Paes e Sérgio Cabral, como dizia o chamado no facebook. A realidade do Rio se repete em várias cidades. No Brasil, por exemplo, se destina quase metade do orçamento público para bancos internacionais e migalhas para a Educação - menos de 5% do PIB.

No entanto, essas políticas começam a ser questionadas pela população. Imagino a cara do Paes ao ver a indignação crescer na cidade maravilhosa: a testa empapada de suor, as mãos inquietas, os olhos esguios procurando respostas, a face atordoada. Deve pensar, que porra é essa!?


Ahh, o Rio continua Lindo!


 


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[i] Coordenador Geral da UES, estudante de Ciências Econômicas e militante Juntos!

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

A Entidade lucrava dois reais a mais pelo recebimento de formulários da UES.

Presidente da AES, Israel Nascimento




Esta semana nos deparamos com uma situação revoltante de desrespeito aos estudantes de Santarém. O motivo de nossa revolta é a pratica de atos ilegais e abusivos, por parte do presidente da AES(Associação dos Estudantes Secundaristas de Santarém), Israel Nascimento, que além de atentarem contra as atribuições da UES (União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém), causaram danos materiais a vários estudantes.

Alguns estudantes universitários, por desconhecimento, se dirigiram à sede da AES para adquirirem sua Carteira Estudantil. A nomenclatura parecida das duas siglas – UES e AES – é um dos fatores que levaram a essa confusão. Todavia, ao invés de esclarecer o estudante desinformado, o presidente da AES, em vários casos, agiu de má fé para tirar proveito dessas situações: forneceu a cada estudante um formulário da própria AES e cobrou R$ 10,00 (dez reais) pela Carteira Estudantil. Em seguida transcreveu os dados do estudante para um formulário da UES e o encaminhou à sede desta entidade, realizando o pagamento de R$ 8,00 por cada formulário entregue, tendo um lucro de dois reais. Após 15 dias (prazo de entrega da carteira), o presidente da AES compareceu à sede da UES, apresentando comprovante de pagamento para pegar a Carteira.

Hoje em Santarém somente a UES pode fazer a emissão da carteira estudantil universitária, e autoriza somente Centros Acadêmicos, Diretórios Acadêmicos e o Diretório Central dos Estudantes das universidades de Santarém a fazerem o recebimento do formulário. A UES não autoriza nenhuma das entidades, UMES e AES, a fazerem o recebimento dos formulários e nem mantêm qualquer tipo de parceria com as mesmas. O motivo é a falta de representatividade dessas associações frente a sua classe e também pela grande falta de transparência em relação à prestação de contas, estatuto, eleição e composição de suas diretorias.

É importante esclarecer que a arrecadação unitária de cada carteira, que hoje custa R$8,00 (oito reais) e assegurada ao estudante por mais de oito anos pela UES, diferentemente do que fazem UMES e AES que anualmente reajustam os valores no intuito de aumentar seus lucros e arrecadações, a UES paga ao SETRANS 3,50 para a confecção da carteira e 4,50 constitui o fundo social da entidade, sendo contabilizado para o funcionamento da entidade e mobilização da categoria estudantil.

Atualmente o presidente da AES, Israel Nascimento não é estudante secundarista, o que torna no mínimo estranho sua presença na presidência da entidade. Israel estuda em uma faculdade particular da cidade. Quanto a UMES, a entidade mais parece um clã do que um órgão de representação de categoria. Desde os tempos de fundação da entidade que se perpetua a família “Chiquinho”.

Diante dessa situação a UES protocolou na polícia civil de Santarém no dia 04 de outubro, uma denuncia dirigida a AES e ao seu presidente Israel Nascimento. A polícia ainda irá apurar os fatos e coletar depoimentos dos estudantes lesados e do próprio Israel.


Com isso esperamos que essa prática mesquinha não se repita mais nas entidades de representação estudantil.




Lembro da história de um vendedor ambulante nas ruas de Santarém que hora estava com a camisa do Flamengo, ora do Vasco, ora do Corinthians e tantas outras. A estratégia era bastante simples: para não desagradar sua clientela cuidava sempre para manter todos de bom grado, discutindo com profundidade a situação dos seus times na tabela do Brasileirão. Vira casaca! O chamavam nas ruas. Mas o fato é que sua estratégia de agradar gregos e troianos lhe sortia bons lucros.

O mesmo parece estar acontecendo com o Professor Domingos Diniz. Com a proximidade do período de homologação das chapas para reitor na UFOPA, Diniz namora com um time a cada dia.

Em carta destinada a comunidade acadêmica, não economiza no brio das palavras para encher a bola do Seixas Lourenço. A carta se intitula, AGRADECIMENTO AOS PROFESSORES JOSÉ SEIXAS LOURENÇO E MARCOS XIMENES PONTE.

O conteúdo da carta deixa claro o surto de admiração aos figurões da UFOPA. Certo trecho diz o seguinte:

“Aos dois ex-reitores que em seus melhores anos preferiram o doar em prol da construção de um futuro memorável para uma região cujo presente ainda é pretérito. Esquecida por políticos e pela política de partidos que não toleram “inteiros” e, vive há ermos varjões das melhores partilhas de suas próprias messes, mas, que não desistem de tomar por assalto uma academia ainda imberbe.”

As palavras agradáveis, ainda destacam:

A estes que toleraram seus intolerantes doutrem; extraíram néctar do joio de suas próprias fieiras; repararam as incorreções no imprescindível do prescindir, nos despedimos com a certeza de nos vermos em outras veredas mais profícuas e em tempos mais abrandados pelo equilíbrio da equanimidade; a paz da felicidade de ser e estar; e, a melhor erudição de uma academia embalada pelo fato de direito e não do direito ao fato.

Digno de um Nobel de literatura, a carta do professor Domingos contrasta com outra correspondência, desta vez destinada aos professores da UFOPA.

Na correspondência, afirma:

“Essa política que quer dar continuidade na forma egocêntrica e centralizadora, autoritária e tirânica, cega e suicida de gerir a mais nova Universidade da Amazônia. Uma Amazônia cansada de ser subtraída e traída por seus próprios filhos.”

Agora o discurso vira as avessas, mostrando a cólera de indignação à atual gestão de Seixas e Cia.

“A UFOPA é do povo Brasileiro e por termos a missão de ajudar esse povo sofrido a vislumbrar oportunidades de mudar seu referencial de miséria e pobreza é que não podemos sucumbir às pressões psicológicas, às ameaças, ao intervencionismo, ao tráfico de influência, à chantagem emocional, a oferta de favores, à incompetência revestida de oportuno privilégio de informação, lobe político, amizades (conluios) e poderes investidos de onipotência que deseja se perpetuar como únicos capazes "salvar" o povo da ignorância e a Universidade do caos intelectual.”

O conteúdo tão divergente dos dois textos nos faz lembrar o nosso ambulante multipartidário.

Por fim, termina a correspondência fazendo um chamado a toda a comunidade acadêmica, para decolar o movimento que levará a candidatura que todos almejam.

Mas de que lado Domingos samba?

A forma dúbia como vem tentando emplacar e construir sua candidatura revela que Domingos não representa a alternativa que a UFOPA precisa.

Precisamos de uma universidade cada vez mais próxima das bases populares, que o ensino, pesquisa e extensão deixem de habitar somente o discurso vazio dos candidatos para se consolidar como uma prática verdadeiramente efetiva.

Acontece que tem gente que vive com amnésia. Talvez seja isso!



Segue abaixo as correspondências de Domingos




Texto 1


Prezados,

Tomamos a liberdade de lhes enviar esta mensagem, afim de que tomem conhecimento do nosso reconhecimento ao trabalho desenvolvido pelos Professores José Seixas Lourenço e Marcos Ximenes Ponte, neste momento de encerramento iminente de suas participações na implantação definitiva da UFOPA.


AGRADECIMENTO AOS PROFESSORES JOSÉ SEIXAS LOURENÇO E MARCOS XIMENES PONTE


O tempo acelera as missões e exaure os ideais quando os caminhos são pedregosos; quando os desafios são maiores e quando a escalada é íngreme. Implantar a Universidade em ritmo célere para atender querências da excelência; construir as melhores referências do novo; e ainda, comboiar guias desviantes, é incumbência para poucos.

Nesta caminhada rochosa de curtos caminhos foram vastas as fronteiras vencidas por tão poucos vencedores. Aos pelo cansaço tombados, nossas honrarias, pois vitimados foram por tropeiros desatinados, incautos que ainda se oportunizam dos ventos e do precipício. A estes torcemos para que sua penitência chegue o mais breve.

A que se fazer jus aos condutores dessa jornada insólita. A que se fazer jus a energia do construir, posto que azes “do empreender” provaram ser, do organizar de mentes; do adaptar de lentes para o vislumbre de horizontes paradigmáticos; do amimar de verbos no futuro a corrigir um pretérito mais que perfeito: “melhor o farei naquilo que não havia sido feito”.

Aos dois ex-reitores que em seus melhores anos preferiram o doar em prol da construção de um futuro memorável para uma região cujo presente ainda é pretérito. Esquecida por políticos e pela política de partidos que não toleram “inteiros” e, vive há ermos varjões das melhores partilhas de suas próprias messes, mas, que não desistem de tomar por assalto uma academia ainda imberbe.

A estes que toleraram seus intolerantes doutrem; extraíram néctar do joio de suas próprias fieiras; repararam as incorreções no imprescindível do prescindir, nos despedimos com a certeza de nos vermos em outras veredas mais profícuas e em tempos mais abrandados pelo equilíbrio da equanimidade; a paz da felicidade de ser e estar; e, a melhor erudição de uma academia embalada pelo fato de direito e não do direito ao fato.

Recebais esse agrado como um fado!

De Domingos Diniz e Siany Liberal

Docentes sitiantes de um floral;

De um pendão sofrido pero guardado;

De um Campus outrora Sitiado.





Texto 2

Reunião para Construção do Programa Básico de Gestão



Caros Colegas,
Venho congregar com vocês da minha vontade de ver esta Universidade trilhar caminhos em direção à excelência científica e tecnológica em prol de um desenvolvimento humanístico e social. De um ensino motivador porque é emanado de um professor feliz com o seu ato de partilhar o conhecimento universal e universalizante. De uma extensão comprometida com os anseios da população largada ao léu por uma política populista, mentirosa, desqualificada e desqualificante.
Essa política que quer dar continuidade na forma egocêntrica e centralizadora, autoritária e tirânica, cega e suicida de gerir a mais nova Universidade da Amazônia. Uma Amazônia cansada de ser subtraída e traída por seus próprios filhos. Urge concentrarmos nossos pensamentos no que temos de melhor: princípios, educação, respeito ao próximo, respeito ao contribuinte a quem servimos, e, respeito à Instituição a quem temos o dever moral de zelar.
A UFOPA é do povo Brasileiro e por termos a missão de ajudar esse povo sofrido a vislumbrar oportunidades de mudar seu referencial de miséria e pobreza é que não podemos sucumbir às pressões psicológicas, às ameaças, ao intervencionismo, ao tráfico de influência, à chantagem emocional, a oferta de favores, à incompetência revestida de oportuno privilégio de informação, lobe político, amizades (conluios) e poderes investidos de onipotência que deseja se perpetuar como únicos capazes "salvar" o povo da ignorância e a Universidade do caos intelectual.
Rogo para que todos compareçam às 14:00 h na chamada de reunião de trabalho feita pelo Waldiney.
Creio ser esta a última chance que temos de decolar nosso movimento em direção à candidatura que todos almejamos.
Muita energia positiva e construtiva para todos nós.

Domingos Diniz
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