Por Felipe Bandeira[i]
Em nota, o Instituto Plínio Corrêa de Oliveira, diante das “repercussões negativas do fato”, considerou que as palavras de Luiz acabam por denegrir a história do Brasil.
Para o instituto, com ideias cheirando a naftalina, nossa história seria mais ou menos assim:
As doces chicotadas desferidas nas costas dos negros fujões ilustravam a harmonia da colonização. No fim das punições, como prova de zelo e humanidade, jogava-se vinagre e sal para evitar infecções. O genocídio dos índios e a miscigenação com o branco serviram para deixá-los menos preguiçosos.
A respeito do latifúndio, este inaugurou uma era de prosperidade sem fim. O açúcar nos presenteou com esse espírito acolhedor, adocicado nas veias. Nossos metais geraram enormes riquezas. E graças aos bandeirantes temos um território de dimensões continentais!
Lembrando de um encontro do G sei lá das quantas, em que se discutia a dívida externa da América Latina, em 2012, os países do euro se esforçavam em demonstrar a necessidade de aumentar os juros aos caloteiros terceiromundistas. Ocorre que nesse encontro houve um desses discursos polêmicos, não de Ruffato, mas de Evo Morales, presidente da Bolívia.
Evo lembrou da dívida de milhões de toneladas de ouro e prata extraída do seu país durante os séculos da colonização espanhola. E antes que dissessem que suas palavras representavam uma fronta a história do seu país, fez questão de lembrar que tudo o que havia falado estava comprovado papel por papel, timbre por timbre nos documentos históricos da Bolívia e dos países do homem branco. Sem falar do sangue do seu povo derramado...
As falas de Ruffato e Evo mostram que não dá pra embelezar nossa colonização. Não dá para esquecer, que por conta da nossa estrutura colonial que hoje o negro é massacrado nas periferias, que as terras indígenas cada vez mais sedem lugar ao gado e a soja, que mulheres são diariamente violentadas, estupradas, e pior, culpabilizadas. Também contabiliza na conta da colonização, a permanência do trabalho escravo, da exploração do trabalho infantil.
Enfim, como disse Caio Prado Jr, o Brasil é um país “privilegiado”, pois hoje podemos visitar nosso passado sem problema algum, é só olhar para o lado, e o pior... para frente.
Leia a nota do Instituto Plínio Corrêa de Oliveira:
http://ipco.org.br/ipco/noticias/comunicado-imprensa-lamentavel-discurso-abertura-solene-feira-livro-frankfurt#.UljhmdIU8Yo
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[i] Coordenador geral da UES, estudante de Economia UFOPA e militante Juntos!
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