Por Wallace Sousa*
Os servidores técnicos administrativos das Universidades federais, representados pela Federação dos Sindicatos dos Trabalhadores das Universidades Brasileiras – FASUBRA, que se encontram a mais de 103 dias em greve, vivenciaram uma das mais importantes lutas de sua história.
Em seu centésimo dia de greve, a FASUBRA, dentro de um contexto de intransigência e ataques ao próprio exercício do direito de greve por um governo que um dia teve como pilares de sustentação o sindicalismo grevista, realizou um vitorioso ato de ocupação na Câmara dos deputados.
A pauta era a aprovação do Projeto de Lei nº 1749/2011 que privatiza os Hospitais Universitários trazendo em seu bojo a insegurança jurídica aos servidores federais trabalhadores deste setor, além de colocar em cheque a qualidade dos serviços prestados, uma vez que a lógica do lucro invadiria a política de Estado de assistência social.
No dia 13 de setembro do corrente ano, cerca de 700 (setecentos) trabalhadores caravaneiros e representantes de base, com uma estratégia arrojada, driblaram a polícia federal e conseguiram entrar no setor de plenários do anexo II da Câmara dos deputados. Essa ardilosa estratégia só foi percebida quando nada mais poderia ser feito pela polícia.
“Amotinados”, um forte clima tenso provocado pelo movimento paredista se agravava com a proximidade do horário marcado pelo presidente da comissão que fatalmente aprovaria o então famigerado projeto de lei. Com os sentimentos aflorados e marcados pelo histórico de intransigência com a categoria trabalhadora, os manifestantes ecoavam palavras de ordens pelo corredor que de tão “povoado” por diversas vezes foi obstruído.
A vigília na frente do plenário só foi interrompida quando os manifestantes suspeitaram que os deputados entrariam por outra porta do plenário, o que provocou, para desespero da polícia, a ocupação deste, o que não foi suficiente para abrigar a todos os manifestantes. Em uma só voz os manifestantes gritavam indignadamente contra a mais uma tentativa de privatização orquestrada pelo governo Dilma.
O sucesso do movimento foi tão grande que impôs medo aos deputados, principalmente ao presidente da comissão Rogério Carvalho (PT/SE), que covardemente suspendeu a votação para o dia seguinte. Os manifestantes, porém, demonstravam a aguerrida vontade de permanecer no local até a votação do dia seguinte. Fato este que não aconteceu devido ao atrelamento de parte da direção governista que intermediou um acordo de entrada de 150 trabalhadores no plenário do dia seguinte mais a “franquia do corredor”.
No dia seguinte, como previsto por alguns, a segurança impediu a entrada de visitantes no anexo II, sendo apenas permitida a entrada de 150 dos manifestantes, descumprindo assim o acordo de todos entrarem. Chegada a hora, foram distribuídas 150 senhas que permitiram o acesso ao plenário 1, local marcado para assistir ao picadeiro da aprovação do projeto de lei. Seria esse o destino dos hospitais se não fosse à ousadia dos poucos mais de 150 manifestantes que suplantaram qualquer tentativa de prosseguimento da pauta e, assim, impedindo mais uma vez a aprovação do projeto de lei.
Ao final, por ironia do destino, a Ministra do Planejamento, Miriam Belchior, encontrava-se no plenário frente aos que se encontravam os manifestantes, tal descoberta trouxe a tona o descaso da ministra com a categoria, pois negava-se em receber a FASUBRA em greve. Essa oportunidade não foi desperdiçada e um grande tumulto na porta do plenário ocorreu, inclusive com truculência por parte dos policiais que imperam aos “tapas” a entrada dos trabalhadores no plenário, apesar de um grupo de manifestantes permanecerem no local, apenas um conseguiu furar o bloqueio e causar um tumulto no meio da fala da ministra.
Com a promessa de nova votação para o dia 20/09, os lutadores da FASUBRA se preparam para mais uma batalha que promete remover montanhas, pois o desafio agora será bem maior, mas a luta é muito mais, por que se “não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”!
A luta continua!
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* Wallace Sousa é servidor da UFOPA e integrante do comando nacional de greve dos técnicos administrativos das universidades federais.
# Leia também: Greve dos Técnicos Administrativos em Educação das IFES.
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