quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Por Gilberto César Rodrigues*
Vivemos um momento importante em nossa região. Por um lado a possibilidade de emancipação política, econômica e administrativa das decisões de Belém. Por outro, a concretização da implantação da Universidade Federal do Oeste do Pará, a UFOPA. De nosso ponto de vista, ambos trazem a tona uma discussão importante sobre desenvolvimento e o momento é oportuno para um debate aberto e responsável sobre se estes dois eventos realmente significam desenvolvimento para a população do oeste do Pará.
No entanto, apesar da importância da criação do estado do Tapajós, abordarei aqui a implantação da UFOPA. Particularmente a questão: a implantação dessa universidade, sobretudo seu modelo de progressão acadêmica, trouxe avanços para a formação de professores no oeste do Pará?
Muito foi especulado sobre o atual modelo acadêmico-pedagógico implantado na UFOPA. Especulava-se que ele era inovador por ser interdisciplinar e que traria desenvolvimento para a Amazônia. Porém, o fato novo é que, concluído o primeiro semestre da implementação do modelo, temos números para refletir sobre estas especulações.
Do ponto de vista econômico é certo que as cidades diretamente atingidas pela chegada da UFOPA aumentaram suas atividades comerciais e empresariais. Chegaram novos professores, funcionários e alunos de diversas partes do país que demandaram mais dessas atividades econômicas, gerando maior receita, tanto para os comerciantes, empresários e como maior arrecadação por parte dos municípios. Por outro lado, do ponto de vista intelectual intensificam as ocasiões de realizações de seminários, debates, conferências, jornadas acadêmicas em nossa região que, inegavelmente, trazem benefícios para a região. Neles pesquisadores e estudiosos do Brasil e do mundo ficam acessíveis à população local em um espaço público para troca de conhecimento. É lugar comum encontrar nas universidades federais eventos desta natureza.
Todavia, os números relativos ao ingresso dos alunos no Instituto de Ciências da Educação apontam que, ao contrário do que foi divulgado pela administração superior da universidade, o modelo de progressão acadêmica que está sendo implementado na UFOPA representa um retrocesso na formação de professores. Basta, para consolidar nosso argumento, o fato de que mais da metade das vagas disponíveis para o instituto que abriga as licenciaturas ficaram vazias. Tampouco somos favoráveis ao regime anterior, onde o aluno disputava diretamente a carreira que desejava seguir. Mas é fato que no antigo regime as vagas das carreiras do magistério quase sempre ficavam totalmente preenchidas.
Porém, para melhor compreensão de nosso argumento é preciso fazer um resgate do modelo de promoção acadêmica em implantação na UFOPA. Em resumo, neste modelo, entram mil e duzentos alunos na universidade, via ENEM, para o Centro de Formação Interdisciplinar. Uma espécie de ciclo básico, porém, com o particular de os alunos ainda não terem curso definido. Após um semestre de aulas os alunos “escolhem” (lembrando que escolhe primeiro o aluno com maior nota no Índice de Desenvolvimento Acadêmico – IDA) um dentre os cinco institutos da universidade. Então o aluno ingressa em um dos cinco institutos da UFOPA. O aluno ainda não tem curso definido. Porém, já poderá estar no instituto que abriga o curso de sua preferência, desde que seu IDA permita a escolha dessa preferência (vale lembrar que quarenta por cento do IDA é composto por uma prova de múltipla escolha aplicada no mesmo dia, local e horário para todos os alunos, semelhante a um vestibular).
Assim, decorrente deste modelo e sob os argumentos (que não examinarei sua pertinência aqui) de que os jovens são imaturos para escolher sua futura profissão, de que é preciso ter uma base interdisciplinar antes desta escolha, etc., mil e duzentos alunos ingressaram na UFOPA sem saber qual sua futura profissão!
No entanto, os números referentes à concorrência dos vestibulares de todo o país apontam que há carreiras que são historicamente mais concorridas que outras. Sendo assim, as carreiras mais concorridas, por exigirem mais empenho dos candidatos para serem aprovados, fazem com que estes absorvam mais conteúdos do que aqueles que intencionam carreiras historicamente menos concorridas. Não examinarei a questão da meritocracia ou do esforço individual, mas decorre deste fato que, dentre os ingressantes da UFOPA, houve mais alunos que escolheram por cursos de carreira mais concorridas, uma vez que foi exigido dos candidatos uma preparação mais forte. Por exemplo, apesar de o curso de Direito disponibilizar quarenta vagas, os números comprovam que ingressaram na UFOPA muito mais do que este número, uma vez que, este curso exige mais dos seus candidatos. Assim, após um semestre de estudos como aluno regular da universidade muitos que escolheram a advocacia como profissão terão que escolher outra carreira ou abandonar a UFOPA.
Por outro lado, ser professor pouco é estimulado no Brasil, sobretudo dentre os adolescentes que compõem o universo de estudantes secundaristas. Baixos salários, condições precárias de trabalho, violência no ambiente escolar, etc., poderiam explicar este desestímulo. Fato é que tal desestímulo acarreta menor concorrência entre os vestibulandos para os cursos de licenciatura. Decorre daí que um menor número de ingressantes que desejavam cursar carreiras do magistério compôs o universo de alunos ingressantes na UFOPA.
Examinando os números relativos à saída dos alunos do Centro de Formação Interdisciplinar e ingresso nos Institutos, os números denunciam que das trezentas vagas disponíveis no instituto no qual as carreiras do magistério estão vinculadas, o Instituto de Ciências da Educação – ICED, apenas cento e quarenta foram preenchidas. Ou seja, decorrente deste modelo de progressão acadêmica, cento e sessenta vagas das carreiras do magistério não foram preenchidas. Com isso, os números comprovam que o atual modelo de progressão acadêmica em implantação na UFOPA diminuiu mais ainda o ingresso dos jovens nas carreiras do magistério.
Sendo assim, do ponto de vista da formação de professores o sistema de progressão acadêmica implementado na UFOPA não constitui desenvolvimento para nossa região. Pelo contrário, constitui retrocesso.
Neste sentido, gostaríamos de publicamente questionar para quem o sistema de progressão acadêmica em implantação na UFOPA, alicerçado em um entendimento superficial de interdisciplinaridade, constitui desenvolvimento. Aproveito para solicitar esclarecimento público desta questão uma vez que ela diz respeito a toda população do oeste do Pará uma vez que ela pode estar sendo prejudicada por, possivelmente, haver no futuro menos professores formados por uma instituição federal de ensino superior para educarem seus filhos.
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* Gilberto César Rodrigues é Professor Assistente do programa de Pedagogia da Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA), Licenciado e Mestre em Filosofia pela Universidade do estado de São Paulo.

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