Foi realizado no último domingo (18/09/2011), na área de ocupação conhecida como Vista Alegre do Juá, o I Seminário do Movimento dos Trabalhadores de Luta por Moradia (MTLM). O objetivo do evento foi discutir os rumos desse movimento que, há mais de um ano, luta arduamente pela garantia do direito à moradia nos bairros da Salvação e Vista Alegre do Juá, que se localizam à margem direita da Rodovia Fernando Guilhon (pra quem vai no sentido Viaduto – Aeroporto).
O problema da habitação tem aumentado a cada dia que passa em Santarém; o município possui hoje um déficit habitacional de 28 mil famílias. O alto preço dos imóveis e dos aluguéis na cidade impede que muitos trabalhadores alcancem o sonho da casa própria. Por conta disso, centenas de famílias, oriundas de diferentes lugares do município de Santarém, ocupam a extensa área da Vista Alegre do Juá e Salvação. Várias famílias vieram da comunidade do Urucurituba (várzea de Santarém), que vem sendo duramente afetada pelo fenômeno das terras caídas. Para organizar a luta dessas famílias pelo direito à moradia, foi criado o MTLM – Movimento dos Trabalhadores de Luta por Moradia.
Margarete Teixeira, uma das coordenadoras do MTLM, contou aos participantes do Seminário o motivo da data escolhida para o evento: “Em 18 de setembro de 2010, 12 trabalhadores (inclusive eu) fomos presos nesta área e passamos 5 dias no presídio como bandidos, devido unicamente à nossa luta por um pedaço de chão pra morar. Após um ano da nossa prisão, lembramos do ocorrido com indignação, o que nos dá ainda mais vontade de lutar por dias melhores”.
O Seminário, que contou com cerca de 100 participantes, teve início com a palestra do Professor Eneas Guedes, geógrafo da UFOPA, sobre o tema "Estratégias da luta por moradia". Eneas relatou as experiências de outras ocupações urbanas no Pará e do Brasil. Grande destaque foi dado para uma ocupação ocorrida na cidade Marituba/PA que resultou vitoriosa, sendo reconhecida posteriormente como bairro Che Guevara. O geógrafo da UFOPA analisou as principais estratégias adotadas pelo trabalhadores de Marituba e as lições que o MTLM deve extrair dessa experiência.
No período da tarde do dia 18, o advogado popular Gleydson Pontes tratou do tema "Políticas públicas de habitação em Santarém"*, fazendo uma abordagem didática sobre os aspectos jurídicos e políticos que envolvem a luta por moradia. O advogado, além de criticar a inércia do poder público (federal, estadual e municipal) no que tange às políticas de habitação, apontou um grave problema estrutural no nosso município: a ausência de previsão, no Plano Diretor de Santarém, de áreas de expansão urbana. “A Prefeitura alega que a área próxima ao Juá deve ser protegia, porém o município não dispõe de áreas urbanas disponíveis para serem ocupadas. Como o direito à moradia é um direito fundamental, a única saída que resta ao povo é ocupar terrenos e construir casas, mesmo sem o consentimento do poder público”.
O movimento estudantil também participou do Seminário. Militantes do coletivo Juntos! Juventude em luta manifestaram seu apoio ao movimento dos trabalhadores pelo direito à moradia. Para Felipe Bandeira, integrante do DCE-UFOPA e do Juntos!, “a luta do MTLM é justa e legítima. Não ter onde morar atenta contra a dignidade humana, por isso é fundamental que os movimentos sociais e o movimento estudantil estejam ao lado dos trabalhadores que lutam diariamente por moradia digna, saúde, educação e por dias melhores”.
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* Além de Gleydson Pontes, foram convidados para debater o tema o secretário municipal de habitação de Santarém, o Pe. Edilberto Sena e um representante da FAMCOS, porém os mesmos não compareceram.
# Confira também: Carta do Movimento de Luta por Moradia à população de Santarém
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