domingo, 24 de novembro de 2013

A Veja, agora com sua mais nova publicação, mostra a juventude que defende os ideais liberais. Reunindo Jovens de da elite carioca, a matéria tenta fazer um contraponto entre os Black blocs e o Partido Novo. O PN é uma organização que, segundo a Veja, emergiu da sinergia da insatisfação da população Brasileira com a velha política.

Brancos, usando roupas de grifes, estudando nos melhores e mais caros colégios e universidades do Rio de Janeiro, os adeptos do Partido Novo defendem a intervenção mínima do Estado na Economia, vangloriam as privatizações - como no caso da Telefonia - rejeitam o radicalismo, e, em alusão aos black blocs, repudiam qualquer forma de violência, como se o Estado não fosse o verdadeiro braço armado contra a sociedade.

De acordo com a publicação, o próximo passo é obter 170 000 assinaturas para referendar a criação do partido. Essas seriam somadas aos mais de 210 000 cadastros já em análise pelos cartórios.

A matéria coloca uma venda no escamoteamento liberal e na própria crise do capitalismo. Resumindo, Estado mínimo para os pobres e maximização dos lucros para os ricos. O capitalismo já mostrou que sem Estado não existe acumulação para os liberais. O Partido Novo é o mais novo engodo da história desse país.

Confira a matéria

O oposto do black bloc

Ainda em gestação, mas com ambições ousadas, o Partido Novo reúne jovens com pensamento liberal

por Felipe Carneiro | 27 de Novembro de 2013
Selmy YassudaIgor Blumberg, 25 anos, Ana Luiza Amoêdo, 23, e Andrew Hancock, 28: militância ativa

Há alguns meses, o Leblon foi palco de uma sequência de ruidosos quebra-quebras praticados pelos black blocs, que resultaram em lojas saqueadas e agências bancárias devastadas. Próximo ao apartamento do governador Sérgio Cabral, um acampamento foi montado na Rua Aristides Espínola, onde manifestantes vestidos de preto ocuparam a via pública a pretexto de exigir a renúncia do político. Coincidentemente, nesse mesmo pedaço da cidade, delimitado pelo Jardim de Alah e pela Rua Visconde de Albuquerque, um crescente grupo de jovens se junta em busca de uma alternativa mais construtiva — e civilizada — para mudar o rumo da política nacional pelas vias legais. É em um escritório no Leblon que se reúnem os integrantes do Partido Novo, um projeto que tem como cláusula pétrea o empenho de instaurar o ideário liberal nas esferas do Executivo e do Legislativo. "Não aguentava mais ouvir todo mundo reclamando, sem fazer nada", diz o engenheiro de computação Igor Blumberg, 25 anos. "Como todos os partidos daqui são de esquerda ou de aluguel, o jeito foi criar uma organização a partir do zero."

Em tese, um partido formado em torno de uma sólida doutrina, que rechace o fisiologismo ou o oportunismo das siglas de aluguel, é, independentemente da inclinação ideológica, uma iniciativa salutar. Essa não é, no entanto, a única particularidade que chama atenção na nova agremiação, gerada num país onde os políticos não gostam de ter seu nome associado ao liberalismo e no qual iniciativas bem-sucedidas nesse sentido, como a privatização das telefônicas, costumam ser demonizadas no debate público. Outro fator de destaque é o engajamento dos jovens pela causa. Apesar de seu principal mentor ser o engenheiro João Dionísio Amoêdo, um executivo de 50 anos que atualmente é conselheiro de um banco e de uma empreiteira, o Partido Novo vem atraindo em larga escala simpatizantes na faixa entre 25 e 35 anos, uma turma que não se sente representada por nenhuma das 39 organizações do quadro brasileiro. "Fico muito entusiasmado quando vejo rostos tão novos nas reuniões. Nosso projeto é de longo prazo, e são eles que vão levar nossas ideias ao poder", diz Amoêdo.

Nesse longo caminho com o objetivo de ocupar cadeiras em assembleias ou funções-chave no Executivo, a ala mais noviça tem exercido papel fundamental dentro da agremiação. Cabe a ela divulgar a filosofia liberal nas redes sociais, que vêm se mostrando uma poderosa fonte de cooptação de simpatizantes. Eles estão sempre em maioria também nas reuniões semanais realizadas no diretório carioca, provisoriamente instalado em uma sala na Avenida Afrânio de Melo Franco. Outro papel destinado aos jovens integrantes do partido é a organização das palestras mensais, ministradas por economistas adeptos da causa, mas não necessariamente membros do partido, caso de Elena Landau, ligada ao PSDB, e Rodrigo Constantino, presidente do Instituto Liberal. Em determinadas ocasiões, a turma, que está em fase inicial de carreira, cotiza-se para bancar as despesas com o aluguel do espaço e o transporte dos convidados. "Já me interessava pela filosofia do liberalismo quando soube do Partido Novo. Logo procurei me envolver", diz o financista Andrew Hancock, 28 anos, sempre presente nos encontros.



Como o debate político de alto nível virou uma atividade escassa no país, a confusão no plano dos conceitos é frequente. Críticos inflexíveis do Estado intervencionista, os integrantes do Partido Novo muitas vezes são comparados aos anarquistas. Nada mais equivocado, pois há um evidente antagonismo com os black blocs, seja no campo das ideias, seja no modo de agir (veja o quadro). Enquanto o batalhão mascarado prega a extinção da propriedade privada e se diz anticapitalista xiita, eles, ao contrário, acreditam que só a total liberdade para acumular riqueza leva ao desenvolvimento da sociedade. "Defendemos a liberdade, mas com responsabilidade individual", enfatiza Bernardo Santoro, diretor do Instituto Liberal. "É o oposto dos preceitos anarquistas ou de práticas ditatoriais, outra pecha que tentam colar no liberalismo."

O próximo passo é obter 170 000 assinaturas para referendar a criação do partido. Elas se somariam às 210 000 fichas de cadastro que estão sendo avaliadas em cartório. Não vai dar tempo para participar da corrida presidencial do ano que vem. No entanto, seus filiados creem que a eleição de 2016 contará com representantes do partido. "Tento contribuir com ideias nas reuniões e já penso em me candidatar a um cargo daqui a três anos", diz o servidor público Manolo Salazar, 25 anos. Que realmente tenham força para oxigenar a política nacional, desgastada por práticas nocivas e tristes figuras recidivas. Sem corrupção e, por favor, sem violência.




A política do café com leite foi a força dominante nos primeiros anos de república. Os avanços e recuos revelam que nosso país foi construído enviesado, de cima para baixo. 


Por Felipe Bandeira*




O ano de 1930 sintetizou um período bastante emblemático da nossa história. As profundas mudanças pelas quais passaria não só o Brasil, mas o mundo após a crise de 1929, inaugurou a crise do liberalismo e da decadente democracia liberal burguesa. No vazio político e econômico do liberalismo clássico se fortaleceu os terríveis regimes autoritários, como o fascismo e o nazismo. No Brasil, Getúlio Vargas assumiria o poder, depois de um golpe militar que pôs um ponto final na velha política do café com leite. Em seu lugar se instituíra um Estado de feição moderna, em via da industrialização e altamente centralizado.

Em 1926, Washington Luiz fora eleito presidente do Brasil. Apesar de sua candidatura emergir da política do café com Leite, onde São Paulo e Minas Gerais se revezavam no poder, Washington Luiz mostrava uma clara tendência à valorização do mil réis ao invés da política de valorização do café. Era explícito que a escolha de uma implicaria na negação da outra. Dessa forma, seu governo, apesar de marcado pela continuidade, trouxe algumas mudanças no cenário político.

A maior delas foi o fim do Estado de sítio renovado ininterruptas vezes deste o levante do forte de Copacabana em 1922, passando pelos levantes tenentistas e a Coluna de Prestes. O clima de aparente liberdade, logo deu lugar às perseguições. Após 6 meses após a posse, entrou em vigor, por inspiração do governo, a chamada Lei Celerada. De acordo com Oscar Pilagallo, esta lei foi feita sob medida para agradar os investidores estrangeiros, sobretudo aos britânicos. Na prática, inviabilizava reivindicações salariais, o governo passou a ter o poder de fechar os sindicatos e os grevistas ficaram sujeitos à duras penas de prisão, além de colocar na ilegalidade o Partido Comunista (PCB). “A questão social é um caso de polícia”, costumava dizer Washington Luiz.

Apesar de eleito sob um arranjo de cúpula que dominava a política nacional, Washington não seguia ao pé da letra a política do café com Leite. Quando em meados do seu mandado, como de costume, se começou a discutir um nome sucessório, o então presidente surpreendeu a todos com a defesa do nome de Júlio Prestes, signatário da política liberal de valorização da moeda e reconhecido deputado de São Paulo. A decisão não agradou aos mineiros que deveriam assumir a presidência de acordo com o pacto da velha república. Descontente com a decisão, o governador de Minas Gerais, Antônio Carlos de Andrada, passou a articular um movimento contra a candidatura de Júlio Prestes. Tinha início a articulação da Frente Liberal.

Andrada foi procurar apoio no Rio Grande do Sul, Estado até então tido como secundário na política nacional. Líder de uma nova geração de políticos, Getúlio Vargas era governador do Estado. O acordo entre Minas Gerais e Rio Grande do Sul foi realizado em junho de 1929 e ficou conhecido como Pacto do Hotel Glória. Combinou-se que Minas Gerais não teria candidato e deveria apoiar o candidato gaúcho. Poucos meses depois se anunciava a chapa de oposição composta por Getúlio Vargas (RS) e João Pessoa (PB) vice.

A campanha foi empolgante para os padrões da velha república. Passeatas, discursos, panfletagem nas ruas, enfim, um cenário de disputa estranho a monotonia das eleições de cartas marcadas. No país inteiro se organizou uma forte frente de oposição. No entanto, como era de costume, dificilmente uma candidatura de oposição poderia se eleger. O resultado final deu ampla margem à candidatura de Júlio Prestes que obteve 59% dos votos.

O resultado foi um balde de água fria aos interesses da frente liberal. Começou-se então maquinar uma forma de intervenção armada para a conquista do poder. Mesmo a radicalização parecia uma estratégia inócua, pois havia o risco de uma revolução proletária. Andrada costumava dizer, que deveriam fazer a revolução antes que o povo a faça. Apesar do clima de instabilidade, a oposição não reunia força para o embate. João Pessoa costumava dizer que preferia dez Júlio Prestes a uma revolução comunista. A frase representou a ironia da história.

Morto em 1929, por motivações pessoais por um adversário político e aliado do grupo de Washington e Júlio Prestes, João Pessoa, enquanto vivo, foi uma voz ativa contra a revolução, mas João Pessoa morto foi o verdadeiro rearticulador do movimento revolucionário.

A revolução eclodiu em 3 de outubro, pouco mais de 2 meses depois da morte de João Pessoa. As forças do pacto do Hotel Glória acusavam o governo comandar a morte de João. A oposição logo tomou o poder, enfrentando focos de resistência, conseguiram vencer após poucas semanas. O Estado que mais ofereceu resistência foi São Paulo, o centro político e econômico do Brasil, devido ser este o maior beneficiado pela continuidade. Após vários conflitos, o Washington Luiz, que ainda nem repassara a faixa presidencial ao seu sucessor foi deposto faltando um mês para o término do seu mandato.

Apesar de não representar um programa coerente, de ser, como afirma Florestan Fernandes, uma revolução de cima para baixo, 1930, foi um marco político importante para o Brasil moderno. Os avanços se mesclavam e se confundiam com os retrocessos, fato que se seguiu durante toda a história moderna do país.

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*Coordenador Geral da UES, estudante de economia UFOPA e militante do Juntos!


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